As girafas são animais que podem, num primeiro momento, transmitir a impressão de terem um temperamento calmo e tranquilo, então podemos pensar: por que não domesticamos girafas?
A domesticação exige espécies naturalmente propensas à convivência humana, capazes de formar hierarquias e aceitar comandos, como cavalos, cães e camelos. As girafas, porém, apresentam comportamento pouco previsível, sendo animais grandes, fortes e reativos. Coices de girafas são capazes de matar predadores, e machos usam o pescoço em golpes violentos (os famosos necking).
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Por que não temos girafas como pets?
Mesmo indivíduos criados em cativeiro tendem a se estressar facilmente, permanecendo ariscos. A falta de um comportamento social que permita “liderança” humana torna o treinamento complexo e perigoso.
Mas, além do comportamento em si, vamos passar outros fatores que também complicam essa domesticação.
Anatomia e estrutura do pescoço dificultam sela e controle
Embora tenham apenas sete vértebras, como os humanos, cada uma é enorme, resultando em um pescoço alto, pesado e extremamente delicado. Essa anatomia causa diversos problemas:
- impossibilidade prática de montar, porque o dorso não suporta peso de forma estável;
- risco elevado de lesões em contenção ou transporte;
- desequilíbrio caso alguém tente usar rédeas ou mecanismos de direção. O pescoço funciona como uma alavanca enorme e sensível. Qualquer movimento brusco pode ferir o animal. Ou seja, diferentemente de cavalos e camelos, sua anatomia não evoluiu para carga, sela ou tração.
Fisiologia frágil e difícil de manejar
O sistema circulatório das girafas é um dos mais especializados da zoologia. Para levar sangue até o cérebro, elas mantêm pressão arterial extremamente alta, o que as torna vulneráveis a anestesia, quedas e contenção. Mudanças rápidas de postura podem causar desmaio.
Além disso, são animais grandes, altos e complexos de transportar, exigindo estruturas específicas para evitar lesões. A língua longa, o metabolismo peculiar e o estresse fácil tornam cuidados veterinários e manejo rotineiro mais difíceis do que em equinos ou camelídeos.
Diferenças em relação a equinos e camelos
Cavalos e camelos foram domesticados porque reuniam características importantes: docilidade relativa, utilidade prática (transporte, tração e montaria), reprodução eficiente, socialidade e anatomia apropriada para sela ou carga.
A girafa é o oposto: não possui dorso apropriado, além de não aceitar bem o manejo. Não forma vínculos de trabalho com humanos, além de não oferecer vantagens econômicas.
Demandando enormes quantidades de alimento (machos chegam a comer ~66 kg/dia). Assim, mesmo povos africanos historicamente convivendo com girafas por milênios, nunca tiveram razão prática para tentar domesticá-las
Baixa taxa reprodutiva e ciclo de vida lento
Para uma espécie ser domesticada, é necessário selecionar indivíduos dóceis por muitas gerações. As girafas têm reprodução lenta: gestação de 460 dias, apenas um filhote por vez, maturidade tardia (3–7 anos) e jovens que dependem da mãe por até três anos.
Isso torna o processo de seleção artificial impraticável. Enquanto caprinos, equinos e bovinos se
reproduzem rapidamente, a girafa levaria séculos para apresentar mudanças comportamentais significativas.
Espécie vulnerável pela IUCN
A União Inernacional para a Conservação da Natureza (em inglês, International Union for Conservation of Nature), é maior e mais antiga rede ambiental global do mundo, da qual fazem parte diversos governos e a sociedade civil para conservar a natureza e promover o desenvolvimento sustentável.
A entidade classifica as girafas como vulneráveis em sua Lista Vermelha, com populações em declínio devido à perda de habitat e caça ilegal. Priorizar a domesticação seria não só inviável, mas eticamente questionável.
A conservação das subespécies, a proteção das savanas africanas e o monitoramento populacional são hoje muito mais urgentes do que qualquer tentativa de adaptação ao convívio humano.
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