A Fórmula 1, a maior e mais prestigiada categoria do automobilismo mundial, sempre foi dominada por homens. Há mais de 30 anos, desde a última participação de Giovanna Amati em uma corrida da F1, o cenário de mulheres na categoria não se alterou.
Apesar dos esforços de inclusão e de campanhas por igualdade, como as promovidas por Lewis Hamilton e Susie Wolff, ainda não vimos uma mulher conquistar uma vaga permanente entre os pilotos da F1. Mas por que isso acontece? Quais são as barreiras que impedem as mulheres de chegar à elite do automobilismo?
Por que não vemos pilotas na F1?
Historicamente, as mulheres têm pouca presença nas etapas do automobilismo, e isso se reflete de forma dramática na Fórmula 1. Somente cinco mulheres competiram oficialmente em Grandes Prêmios da categoria: Giovanna Amati, Desiré Wilson, Divina Galica, Maria Teresa de Filippis e Lella Lombardi.
A italiana Lombardi competiu de 1974 a 1976, e se destacou por ter sido a única mulher a pontuar na F1, durante o GP da Espanha de 1975. Logo depois disso, a categoria voltou a se tornar um ambiente exclusivamente masculino e, desde então, o número de representantes femininas diminuiu.
De lá para cá, mulheres como Susie Wolff e Tatiana Calderón apareceram em testes e desempenharam papéis em equipes como Williams e Alfa Romeo, mas nenhuma delas conseguiu se estabelecer como piloto titular.
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1) Uma longa briga por mais oportunidades
Ao contrário do que muitos ainda acreditam, a ausência de mulheres na Fórmula 1 não é falta de talento, mas de oportunidades. Em termos de habilidades, mulheres como Jamie Chadwick, tricampeã da W Series, demonstram que estão à altura de competir com os melhores pilotos do mundo.
No entanto, a falta de apoio financeiro e a falta de pontos de licença de corrida, essenciais para alcançar a F1, continuam a ser obstáculos significativos para as mulheres.
A W Series, que foi criada para tentar remediar a situação e gerar mais oportunidades para as mulheres no automobilismo, infelizmente não conseguiu cumprir seu objetivo de fornecer prêmios em dinheiro ou pontos necessários para uma transição para a Fórmula 1.
Agora, a F1 Academy surge como uma tentativa de criar um caminho mais estruturado, mas, até o momento, os desafios permanecem os mesmos.
De modo geral, os altos custos envolvidos no automobilismo são a grande barreira para muitas mulheres. O apoio financeiro das equipes e patrocinadores é essencial para que os pilotos possam subir nas categorias, mas as mulheres frequentemente enfrentam dificuldades em conseguir esse tipo de respaldo.
Algumas pessoas ainda acreditam que ser mulher pode ser uma vantagem para conseguir patrocínios, dado que são minoria em um esporte dominado por homens.
No entanto, a realidade é o exato oposto, visto que muitas grandes empresas hesitam em apoiar mulheres no automobilismo, em partes pela “falta de credibilidade” percebida pela indústria e pelo público.
2) O estigma da força física
Apesar de não haver barreiras físicas intransponíveis para as mulheres no automobilismo, a falta de treinamento adequado é um problema.
David Coulthard, ex-piloto de F1 e atual responsável pela organização More Than Equal, afirmou que muitas mulheres não estavam fisicamente preparadas para competir ao mais alto nível, mas isso não é uma questão intrínseca do sexo biológico, e sim uma questão de treino adequado.
Segundo Coulthard, o automobilismo precisa de preparo físico intenso, e quem não está preparado, seja homem ou mulher, não tem o que é necessário para ter sucesso no esporte.
Deste modo, a alegação de que a força física seria um impeditivo para as mulheres competirem em nível igualitário não se sustenta — especialmente porque a Fórmula 1 exige resistência e habilidades motoras excepcionais, mas não é um esporte que requer força física bruta.
Figuras como Michèle Mouton, que dominou o Mundial de Rali (WRC), e Danica Patrick, que fez história na IndyCar e NASCAR, mostram que mulheres não apenas podem, mas se destacam em esportes automobilísticos de alto nível.
3) Mudanças necessárias para uma mentalidade antiquada
Apesar dos obstáculos, há uma crescente conscientização sobre a necessidade de mudança. Uma pesquisa realizada pela iniciativa More Than Equal aponta que as fãs de automobilismo são cerca de dez anos mais jovens que os fãs masculinos e que, se houvesse mais mulheres nas corridas, elas acompanhariam a categoria mais de perto.
Além disso, em 2017, um estudo realizado pela Universidade de Michigan revelou que as mulheres, mesmo com menos experiência, podem competir no mesmo nível que os homens em termos de resistência física, frequência cardíaca e habilidades cognitivas durante uma corrida.
Com isso, a pressão por mudanças na F1 tem aumentado, e figuras como Lewis Hamilton são essenciais nesse movimento.
Como um dos pilotos mais influentes da atualidade, ele não hesita em criticar a falta de diversidade de gênero na categoria, afirmando que a F1 falha ao não dar a devida atenção ao problema da falta de mulheres. Para ele, a Fórmula 1 precisa acolher e apoiar pilotos mulheres desde o início de suas carreiras.
A mudança, no entanto, dependerá de mais do que apenas declarações públicas de apoio. Será necessário um esforço real para garantir que as meninas e mulheres encontrem espaço desde as categorias de base, com maior suporte financeiro, mais oportunidades de treinamento e uma mudança na cultura da F1 para que seja mais inclusiva.
Talvez o futuro da F1 seja mais equilibrado, com mulheres competindo de igual para igual com os homens. Mas para que isso aconteça, todos, desde as equipes até os patrocinadores e fãs, terão que fazer a sua parte.
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