Talvez você já tenha sentido na pele ou escutado algum amigo contando sobre uma tentativa de golpe online. O Brasil está na mira dos hackers e, segundo dados do Google, é o país mais visado para ataques cibernéticos na América Latina.
Um relatório de agosto lançado pela Netscout mostrou o mesmo dado: o Brasil foi o país mais visado por ataques de negação de serviço distribuído (DDoS) na América Latina só no primeiro semestre de 2025. Foram mais de 550 mil casos em apenas seis meses, um crescimento de 55% em relação ao período anterior – e mais da metade do restante da região inteira junta. Já outro estudo, da Acronis, revelou que o país também foi um dos principais alvos de ataques ransomware em 2024, sendo o sétimo mais atingido no mundo.
Nesse sentido, a inteligência artificial se tornou um desafio extra. Os hackers podem usar a tecnologia para refinar seus ataques cibernéticos, dificultando a proteção.
Mas por que o Brasil? E como se proteger dessas ameaças? Durante encontro com jornalistas em São Paulo, Sandra Joyce, Vice-Presidente de Inteligência de Ameaças do Google, revelou os motivos pelos quais o país está na mira dos hackers, como a IA pode ser usada para o bem e para o mau, e ameaças que, até então, mal sabemos da existência.
O Brasil é o maior e mais rico país da América Latina e, por isso, sempre vai atrair ameaças. Criminosos vão onde o dinheiro vai.
Sandra Joyce, Vice-Presidente de Inteligência de Ameaças do Google

Por que o Brasil virou alvo dos ataques cibernéticos?
De acordo com dados do Google, o Brasil é, de longe, o país mais visado para ataques cibernéticos na América Latina, muito à frente da Colômbia e da Argentina (na sequência).
Joyce atribuiu isso a quatro fatores:
- Grande comunidade de cibercrime;
- Espionagem patrocinada por outros países;
- Adoção avançada de criptomoedas (a moeda de escolha dos cibercriminosos);
- Cadeia de suprimentos extensa.
Se você quer hackear um país na América Latina, qual escolheria? A executiva destaca como, além de ser maior, o Brasil é um país rico em propriedade intelectual e inovação. Com isso, cibercriminosos tendem a, naturalmente, olhar para as oportunidades por aqui.
Além disso, a cadeia de suprimentos extensa facilita para que os agentes se infiltrem sem serem notados.
Sandra Joyce destacou, ainda, como o Brasil está na mira da Coreia do Norte. Dados coletados pelo Google mostraram que trabalhadores de tecnologia da informação (TI) norte-coreanos são patrocinados pelo próprio Estado para se infiltrarem na operação de empresas de outros países e obterem informações. Essa tendência virou um verdadeiro problema nos Estados Unidos, foi para a Europa e agora está chegando por aqui.

Quais os ataques hackers mais comuns no Brasil?
A executiva destacou que ransomware é um dos ataques cibernéticos mais frequentes por aqui. Nesse caso, os criminosos roubam dados de um sistema e os usam como moeda de troca para receberem pagamentos.
Mas o ramsonware não é o único. Outros ataques observados são os chamados “infostealers”, quando criminosos roubam informações pessoais para serem usadas em sites (por vezes, vendendo esses dados na dark web); extensões maliciosas; e os chamados “banking trojans”, malwares voltados para roubar informações bancárias.
Já os setores mais afetados são:
- Manufatura;
- Tecnologia;
- Serviços jurídicos;
- Varejo;
- Serviços governamentais.

Cibercrime é lucrativo
Apesar dos casos não serem fáceis de identificar, o setor de cibersegurança atua diretamente na busca por brechas em sistemas e na resolução de incidentes deste tipo.
Joyce contou sobre uma situação em que o Google foi contratado para se infiltrar na dark web e observou como o cibercrime funciona.
Eles são resilientes. Quando pensamos em ransomware, não é uma empresa contra outra. É uma empresa contra um ecossistema inteiro. Eles trabalham juntos. Eles não sabem que são uns aos outros. E tem uma rede quase interminável de participantes porque tem muito dinheiro envolvido. É um setor muito lucrativo.
Sandra Joyce, Vice-Presidente de Inteligência de Ameaças do Google

Inteligência artificial melhora ataques cibernéticos… mas também ajuda a preveni-los
Sandra Joyce explicou que cibercriminosos estão usando a tecnologia para tarefas simples, como escrever códigos de computação, encontrar informações online e melhorar mensagens de phishing, por exemplo.
Nós todos já vimos aquelas mensagens que são tão falsas que nem clicamos mais. Agora, eles [cibercriminosos] estão usando IA para escrever mensagens mais personalizadas, com gramática perfeita e muito mais clareza.
Sandra Joyce, Vice-Presidente de Inteligência de Ameaças do Google
O Google está ciente disso e também está usando IA, mas ao contrário: justamente para se proteger dos hackers. “Estou otimista com o que a IA está fazendo para nos proteger”, afirmou.
Entre as vantagens da aplicação da tecnologia na cibersegurança estão:
- A possibilidade de encontrar vulnerabilidades antes dos hackers encontrá-las;
- Reduzir o tempo de resolução de tarefas;
- Criar relatórios mais rapidamente;
- Encontrar informações mais rapidamente.
No entanto, o desafio está no futuro, uma vez que os hackers conseguirem alcançar os feitos da IA:
A única parte ruim [de usar IA na cibersegurança] é que, quando os cibercriminosos alcançarem esse tipo de técnica e tecnologia, temos que estar prontos. Quando eles também conseguirem usar a IA para encontrar vulnerabilidades, isso vai colocar organizações em risco. Temos sempre que estar à frente deles nesses sistemas. É um futuro rápido, em que os ‘defensores’ têm que estar sempre à frente dos ‘atacantes’ urgentemente. Tem muitas coisas que estamos à frente atualmente, porque temos dados e ferramentas para isso. Só temos que continuar à frente.
Sandra Joyce, Vice-Presidente de Inteligência de Ameaças do Google

Como se proteger de ataques cibernéticos?
Para empresas, Joyce destaca a importância de escolher servidores que tenham a segurança do cliente e dos dados como prioridade.
Já para pessoas ‘comuns’, é preciso sempre pensar duas vezes antes de informar dados pessoais online. Ela destaca como usuários estão compartilhando informações extremamente pessoais (incluindo sentimentos) com chatbots e que também é importante escolher ferramentas de IA que priorizam a segurança.
Outro ponto é sempre desconfiar e ter pensamento crítico, principalmente para analisar se algo foi gerado artificialmente, e ter calma. No geral, os golpes criam um sentimento de urgência para distrair a vítima. “Pare por um momento antes de reagir. É algo importante de lembrar”, aconselhou.

E no futuro?
Apesar do cenário alarmante dos ataques cibernéticos no Brasil, Sandra Joyce destaca que a inteligência artificial está criando muitos empregos e ferramentas inéditas. O conselho dela é que todos saibam o mínimo de IA, porque, em breve, a tecnologia vai estar praticamente em todos os setores da indústria.
Leia mais:
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- 80% das empresas brasileiras não têm plano contra ataques cibernéticos
- Ataques hackers ficarão mais sofisticados do que nunca, diz estudo
Ela também destaca que países estão colaborando entre si para combater o cibercrime e se manterem atualizados nas tendências mais recentes, como forma de se proteger. “Quando falamos em colaboração, nunca estivemos melhor”, completa.
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