Por que os EUA não gostam do Pix? Entenda alguns dos possíveis motivos

Na atual disputa comercial e política entre Estados Unidos e Brasil, um dos temas envolvidos na investigação lançada pelo país norte-americano é o Pix. Parte dos motivos que preocupam Donald Trump envolve supostas irregularidades e vantagens competitivas nos “serviços de pagamento eletrônico do governo“.

Mas por que outro país considera o sistema de pagamentos mais utilizado por aqui em quantidade e volume de transações como “desleal“? De acordo com Arthur Igreja, especialista em Tecnologia e Inovação, há hipóteses que envolvem principalmente o atual sucesso desse projeto 100% brasileira.

Até o momento, a administração de Trump não detalhou as acusações contra esse setor da economia nacional, mas há algumas suspeitas e apostas sobre por que os EUA não enxergam com bons olhos o domínio desse sistema na rotina do brasileiro. A seguir, confira algumas dessas explicações.

A redução no uso de cartões de débito e crédito

Um dos pontos listados envolve a ameaça do Pix contra pagamentos feitos no cartão de bandeiras controladas por empresas dos EUA. Essa preferência pelo sistema nacional tem sido cada vez mais evidente tanto no débito quanto no crédito parcelado, graças a novos recursos como o Pix Parcelado e o Pix Automático.

“Esse ecossistema criado pelo Banco Central do Brasil acaba tirando da equação os pagamentos que são feitos da forma tradicional, que são aqueles que têm as instituições de cartão de crédito, de pagamentos, as adquirentes [que processam as transações]”, diz o especialista.

Imagem: Freepik.com

Para Igreja, até mesmo a influência global do Pix seria uma ameaça nesse caso, pois ele poderia inspirar países a criarem os seus próprios formatos de pagamento instantâneo e enfraquecer ainda mais a presença dessas companhias — são poucos os exemplos hoje de nações com uma plataforma parecida e que não é controlada por corporações.

“Se houvesse uma escalada global disso, eventualmente algumas empresas, especialmente as big techs americanas, poderiam perder parte da sua receita”, explica.

Menor volume de transações em dólar

Um segundo ponto apontado pela Agência Brasil envolve uma possível adoção do Pix até mesmo por lojas e comerciantes estrangeiros. Em vários casos que incluem até pontos turísticos de locais como Argentina, Paraguai e Panamá, o Pix acabou virando uma forma de pagamento aceita para atrair o brasileiro.

Neste caso, transações que antes seriam feitas em outras moedas ou usando aplicativos de transferência de dinheiro (que muitas vezes são convertidos para o dólar por padrão), acabam virando pagamentos em Pix.

O caso WhatsApp Pay

Outra ação que pode ter desagradado uma empresa dos EUA aconteceu em 2021. O Banco Central, criador do Pix e uma das autoridades monetárias do país, foi acusado de favorecer o próprio Pix ao prejudicar a entrada do sistema de pagamentos WhatsApp Pay no Brasil.

Imagem: Divulgação/Meta

O BC suspendeu a chegada da plataforma por meses e, quando foi lançado, o recurso não se popularizou entre brasileiros. As empresas Visa e Mastercard, também fornecedoras de cartões, foram confirmadas na época como prestadoras do serviço. Para além dessas companhias, a própria Meta, dona do WhatsApp pode estar envolvida nas cobranças — inclusive pela aproximação do CEO Mark Zuckerberg com o próprio Trump.

Outros países podem criar o próprio Pix?

De acordo com Igreja, o Pix tem uma imagem internacional positiva e é referência pela composição tecnológica, sendo até mesmo difícil explicar o funcionamento a quem não conhece a modalidade. Curiosamente, porém, só chegamos a esse ponto justamente por dificuldades enfrentadas antes pela economia.

“O sistema financeiro brasileiro sempre foi muito moderno e até por algumas particularidades, uma delas é a hiperinflação”, explica o especialista, citando a crise econômica vivida pelo país durante a as décadas de 1980 e início dos anos 1990. No período, foram várias alterações de moeda e mudanças diárias no preço de produtos, incluindo alimentos.

E por que outras nações não adotam esse tipo de transferência, especialmente se ela é tão elogiada? Igreja argumenta uma adoção dependeria de questões culturais da população de vários países, que preferem outros formatos ou são em maioria pessoas mais velhas, com resistência a operações mais digitais. Além disso, essa implementação depende principalmente do arranjo dos bancos centrais e do estado das finanças de um país, para além da vontade de um governo ou da população.

Sabia que o ataque hacker a sistemas ligados ao Pix no Brasil teve um planejamento longo e que envolveu o Telegram? Confira mais detalhes do caso neste artigo!

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