Quando o inverno chega, dá aquela vontade quase automática de se entupir de chocolate, fondue e outras coisinhas doces que confortam a alma e aquecem as mãos.
A cena se repete em cafés, cozinhas e reuniões com amigos, e a desculpa parece perfeita para comer doce quando frio sem culpa. O corpo pede, o cheiro é convidativo e a memória afetiva faz o resto. Antes de culpar a gula, vale entender por que essa atração por açúcar cresce justamente quando a temperatura cai.
Por que temos mais vontade de comer doce quando está frio?

Quando a temperatura cai, o organismo aciona programas de proteção para manter a temperatura interna estável.
Aquecer o corpo custa energia e a conta sobe na mesma medida em que o ambiente esfria: quanto mais rápido e intensamente o tempo esfria, mais energia o corpo usa para gerar calor, e de mais energia/combustível precisamos para manter a temperatura do corpo estável.
É por isso que muitos sentem vontade de comer doce quando o tempo esfria: o açúcar gera energia. Mais especificamente, açúcares simples entram na circulação com velocidade, chegam aos músculos e ao fígado e abastecem a fábrica de calor em poucos minutos.
O impulso por algo doce não é apenas um capricho do paladar. É a forma mais direta de atender a uma demanda energética imediata imposta pelo clima.
Alimentos ricos em carboidratos simples produzem elevação rápida da glicose no sangue. Essa disponibilidade imediata favorece a termogênese e ajuda a estabilizar sinais internos que o cérebro interpreta como urgência calórica.
O mesmo raciocínio vale para bebidas quentes adoçadas, que entregam calor externo e energia ao mesmo tempo. Quando a fome aparece nas horas frias, a combinação de conforto térmico com combustível rápido faz sentido biológico.
O problema está em repetir esse padrão sem considerar o restante da dieta, já que picos de glicose seguidos de quedas bruscas podem reforçar um ciclo de desejo que se repete ao longo do dia.
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Cérebro, hormônios e recompensa

A regulação do apetite envolve circuitos de sobrevivência e de recompensa. No frio, o sistema nervoso simpático fica mais ativo e o gasto basal sobe.
Esse cenário conversa com mensageiros que modulam fome e saciedade. Sinais orexigênicos tendem a ganhar espaço quando a disponibilidade de energia cai, enquanto os sinais de freio perdem força.
No cérebro, regiões que avaliam valor e prazer do alimento tornam-se mais responsivas a opções densas em energia.
O resultado é a sensação de que um doce resolve rápido, ao mesmo tempo em que o paladar interpreta o açúcar como prêmio. A biologia empurra em duas direções alinhadas. Repor energia e buscar algo recompensador.
O frio também muda a forma como percebemos os alimentos. Preparações quentes carregam aromas mais intensos e textura mais macia, o que eleva a palatabilidade. Doces aquecidos e bebidas adocicadas parecem mais agradáveis porque unem calor, cheiro e sabor em um pacote que acalma. Esse efeito de conforto não é trivial.
O corpo lê calor como segurança e associa esse sinal a maior permissividade para comer. Ao somar energia rápida ao conforto térmico, o desejo por açúcar ganha uma moldura emocional difícil de ignorar, sobretudo em dias curtos e chuvosos.
O que isso significa na prática?

Entender o mecanismo por trás da vontade de comer doce quando frio ajuda a fazer escolhas realistas. O impulso tem base biológica e conversa com necessidades legítimas do corpo.
Se o objetivo é atravessar o período frio com energia estável e menor oscilação de humor, vale trocar parte dos açúcares simples por fontes de carboidrato de absorção mais lenta, que sustentam a termogênese sem provocar picos e vales intensos.
No frio, o corpo gasta mais para manter a temperatura e o cérebro direciona o comportamento alimentar para repor esse gasto da maneira mais eficiente. O açúcar cumpre essa tarefa com rapidez, conversa com circuitos de recompensa e se soma ao conforto térmico de comidas e bebidas quentes. A vontade de doce não é um erro de caráter.
Com informações de PubMed Central.
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