Que fim levou o Flash, software popular que animava jogos e sites nos anos 2000?

Houve um tempo em que o Flash era rei. Seja como software ou plugin para navegador, com essa ferramenta ou formato de arquivo era possível criar e reproduzir desenhos, jogos, sites e programas inteiros via gráficos vetoriais — a ponto de vagas de emprego nas décadas de 1990 e 2000 pedirem “habilidades em Flash” para designers e até programadores.

Essa tecnologia ditou o visual e o funcionamento de vários serviços digitais por anos, além de ser uma forma acessível de reproduzir animações. Com o tempo, entretanto, ela foi considerado obsoleta e recebeu críticas de nomes de peso da indústria, em especial de Steve Jobs.

Mas você sabe o que aconteceu com o Flash e por que ele perdeu relevância com a popularização dos dispositivos móveis? A seguir, o TecMundo traz uma retrospectiva sobre esse recurso tão nostálgico.

A origem do Flash

O Flash como software nasce em 1993 nos Estados Unidos, com a fundação da empresa FutureWave. O primeiro produto dela foi o SmartSketch, um editor de desenhos vetoriais que tornava criações gráficas mais acessíveis até em mesas digitalizadoras.

Com a internet comercial começando a se disseminar, a empresa lança em 1996 um segundo software, focado em animações que rodam online: o FutureSplash, dividido em dois programas. O primeiro é o FutureSplash Animator, que é o editor propriamente dito. O segundo é o reprodutor dessas criações, que podia ser também um plugin incorporado em navegadores.

O programa de animação na primeira versão. (Imagem: Reprodução/WebDesignMuseum)

Nessa época, com sites ainda pouco atrativos visualmente, alguns portais ganharam fama por serem alguns dos primeiros com essa nova forma de animação digital. Tanta visibilidade levou a empresa Macromedia a adquirir a FutureWave no fim do ano, além de encurtar o nome do produto para Flash.

Expansão e domínio

A “dobradinha” da ferramenta de animação com o player continuou como Macromedia Flash Player. Sites em Flash tinham animações em menus e recursos de interatividade, como botões animados. Novas versões foram permitindo experiências mais ousadas, movimentações mais dinâmicas e até o uso de som.

Dependendo da sua conexão, que provavelmente ainda era discada, o site levava um tempo a mais para carregar, mas o resultado compensava a espera. O final dos anos 90 foi a era de ouro do Flash em termos de uso em páginas, games e animações curtas: quase 80% dos consumidores já tinham o plugin habilitado por padrão, sem precisar de download.

Crimson Room era um dos games clássicos em Flash. (Imagem: Reprodução/YouTube)

Alguns nomes clássicos de criações em Flash incluem:

  • o jogo de movimentação em que você desenha a pista, chamado de Line Rider;
  • o ‘point and click’ de exploração e investigação Crimson Room;
  • o auge de subgêneros como tower defenses, controle de motos ou bicicleta com uma Física realista e vestir bonecas com roupas variadas;
  • animações como o bizarro Happy Tree Friends, o clássico brasileiro ‘Avaiana de Pau’, a história do mamute as lutas dos bonequinhos de palito Xiao Xiao;
  • sites que reuniam jogos em Flash, como Newgrounds, Armor Games, Miniclip, Kongregate e o bom e velho ClickJogos;
  • páginas interativas completas, como o site do Cartoon Network e da Turma da Mônica.

A Adobe entra em cena (e as críticas também)

O ano de 2005 é especialmente importante para o Flash. Para começar, a Macromedia é adquirida pela gigante Adobe, que passa a ser a dona do Flash, do Dreamweaver e de outras propriedades. Além disso, o YouTube é lançado com o reprodutor em Flash, se tornando um fenômeno ao permitir a postagem de clipes e a visualização rápida de vídeos sem precisar de um download.

A influência da Adobe já era sentida em atualizações Flash 8, que tinha novidades gráficas que incluíam filtros e efeitos gráficos que lembram os do Photoshop. As versões do programa de criação também migram para a Creative Suite, o pacote de assinaturas da empresa que depois se tornaria o Creative Cloud.

Sites que reúnem jogos curtos e simples existem até hoje. (Imagem: Reprodução/ClickJogos)

Só que a maré começou a virar por volta de 2007: com o lançamento do primeiro iPhone e cada vez mais celulares voltados para reproduzir inclusive vídeos online, o YouTube lança uma versão alternativa do site com HTML5 e o codec H.264 — que foi elogiada principalmente em economia de energia e agilidade no carregamento.

Esse foi o primeiro grande momento em que se começou a discutir o Flash de uma forma crítica. Por um lado, os sites em Flash eram bonitos, mas eram bem pesados. Além disso, a plataforma era insegura e exigia atualizações frequentes para fechar vulnerabilidades.

O começo do fim do Flash

Em 2008, a própria dona do Flash lança o Adobe AIR, um motor alternativo ao Flash Player para uso em dispositivos móveis ou PC. Esse era um indicativo de que a moral dessa ferramenta estava em baixa.

Em 29 de abril de 2010, o então CEO da Apple, Steve Jobs, publica uma carta chamada “Pensamento sobre o Flash” (Thoughts on Flash, no original em inglês) para explicar por que o iOS não suportaria o formato — sob os mesmos argumentos de peso em dados, lentidão, consumo de bateria e insegurança. Para ele, o Flash era uma tecnologia criada para a era dos PCs e do mouse e não fazia sentido em telas pequenas.

Um dos maiores inimigos do Flash. (Imagem: GettyImages)

O primeiro iPad saiu sem o suporte ao Flash e, depois de um baque inicial, a indústria percebeu que era possível viver sem a plataforma. Em 2011, a própria Adobe anuncia o fim do desenvolvimento para navegadores mobile e dá a vitória ao HTML5, com rivais como WebGL, WebAssembly e até Microsoft Silverlight correndo por fora.

Em julho de 2017, a própria Adobe decreta o fim do suporte oficial e da distribuição do Flash para 31 de dezembro de 2020 — tempo suficiente para adaptação desses conteúdos. Nesse período, os navegadores começaram a eliminar o suporte ou isolar o Flash: quando você entra em página com esse tipo de conteúdo hoje em dia, ele vem desabilitado e com um aviso da incompatibilidade.

O aviso do fim do Flash. (Imagem: Reprodução/Bleeping Computer)

Em 31 de dezembro de 2020, chega ao fim o suporte e a distribuição oficial do Flash pela Adobe. Antes disso, o programa o Flash Professional também foi rebatizado pra Adobe Animate

Muitos jogos e animações se perderam com esse fim, mas projetos de preservação como o Flashpoint e a adaptação dos próprios desenvolvedores ajudaram a recuperar e guardar alguns clássicos, ou convertê-los para padrões que ainda são suportados.

Apesar de tantas críticas, o Flash traz boas lembranças para várias gerações de quem viveu a época de domínio dele. A tecnologia era mesmo acessível para criações, permitia animações mais robustas, conseguiu a adoção massiva de empresas e inspirou muitos criadores independentes a colocarem projetos em prática.

Você sabe que fim levou o iPod, o MP3 player da Apple que revolucionou a música? Saiba mais sobre o tema neste artigo!

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