Os vídeos do Tallis Gomes e do Guto Galamba viraram o assunto do momento. Já foram esmiuçados de todos os lados, mas, da minha perspectiva, representam um sinal vermelho para a inovação.
Vamos por partes.
Primeiramente, inovar é resolver o que ninguém conseguiu resolver. E se ninguém resolveu até agora, é porque não é trivial. Simples assim. Quando alguém aparece com a solução, precisa mostrar, argumentar, enfrentar resistências. E, do outro lado, os outros precisam ter a humildade de ouvir.
Inovação é como uma obra. Todo mundo sonha com a casa reformada, mas ninguém aguenta a quebradeira. Querem o banheiro novo, mas não a poeira no colchão, o barulho da furadeira às sete da manhã. A inovação é isso: todo mundo quer o resultado, quase ninguém encara o processo.
O que os vídeos mostraram foi exatamente isso. Tallis e Guto estavam lá, sólidos, claros e pragmáticos. Você pode não gostar deles por qualquer razão, mas separe a mensagem do mensageiro. Eles foram precisos. Mas, do outro lado, um muro composto por inimigos da lógica. Com raras exceções, as pessoas se mostraram impermeáveis a argumentos, alérgicas a evidências.
Só que a lei do livre arbítrio não se sobrepõe à lei da semeadura: acredite no que quiser, fale o que quiser, mas plantou feijão, vai colher feijão. E esse é ponto central do meu artigo.
Até pouco tempo, as mudanças levavam décadas para se consolidar. Hoje, a mudança é diária, sem exagero. Muitos empregos nem existem mais, enquanto novas funções estão pagando os olhos da cara. Não é à toa que os discursos parecem contraditórios: de um lado, muita gente dizendo que emprego está difícil, do outro, empresas implorando por talentos.
Diante disso, a pergunta não é retórica: se alguém não consegue lidar com um argumento lógico, tipo, “obesidade faz mal”, como vai lidar com esse mundo que muda em tempo real? Qual será a capacidade de empregabilidade de quem não se adapta? E qual será a consequência para uma sociedade inteira, quando milhões não tiverem musculatura cognitiva para acompanhar o ritmo? A tecnologia já anda mais rápido do que o ser humano consegue pensar. O risco é que a fila da obsolescência não seja só de máquinas velhas, mas de pessoas.
Esses vídeos também escancaram a sina de quem ousa inovar: não basta ter uma boa ideia, não basta apresentar argumentos sólidos, não basta provar com números, dados e exemplos. Quem decide colocar algo novo no mundo precisa, antes de tudo, enfrentar um paredão de gente que não quer ouvir, que não suporta mudar, que se agarra a falsas crenças. Inovar, muitas vezes, é mais difícil por causa da mentalidade do que pela falta de recursos.
E, em que pese todo esse cenário, ainda tem a cereja azeda: a seleção do canal FOCO. Se a ideia era confrontar Tallis e Guto Galamba, por que não escolher gente minimamente preparada? Já seria difícil para profissionais treinados encarar os dois, que são oradores experientes. Mas não: preferiram recrutar um elenco no melhor estilo Rei do Camarote, com argumentos sólidos como um isopor. A diferença é que o Rei do Camarote era milionário. Nos comentários, o veredito foi unânime: quase ninguém conseguiu assistir os vídeos até o fim. Não por falta de interesse, mas por overdose de vergonha alheia.
No fim das contas, o vídeo foi só entretenimento barato. Mas o alerta é sério: o mundo não vai esperar que ninguém entenda a lógica para seguir em frente. A inovação não pede licença, não marca hora e não se adapta ao ritmo da preguiça mental. Quem não se abre para ouvir, refletir e mudar vai descobrir, da pior forma, que não há espaço no futuro para quem ainda vive no passado ou preso a falsas crenças. Porque, goste ou não, quem não escuta argumentos, mais cedo ou mais tarde, vai escutar o som seco do desemprego batendo à porta.