Real ou falso? Vídeos de IA estão tão bons que é difícil confiar no que vemos

“Ver para crer” foi, por séculos, um conceito fundamental da nossa percepção de realidade. Porém, o que antes era uma prova quase irrefutável de um acontecimento, como uma foto ou uma gravação de vídeo, hoje entra em um campo de profunda incerteza. A chegada de aplicativos como o Sora, da OpenAI, que permitem a qualquer pessoa gerar vídeos ultrarrealistas a partir de um simples comando de texto, inaugurou uma era em que a linha entre o fato e a ficção digital se tornou perigosamente tênue.

Com o lançamento do Sora 2, anunciado em 30 de setembro de 2025, essa fronteira está prestes a se dissolver ainda mais, nos forçando a adotar uma nova postura: a de que nem tudo que vemos em uma tela é real.

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Desde o seu lançamento inicial, o Sora se destacou por sua capacidade de produzir vídeos com uma qualidade surpreendente e, inicialmente, superior à de concorrentes como o Veo 3 do Google. A ferramenta, que se tornou um dos aplicativos gratuitos mais baixados na App Store da Apple, pode criar cenas complexas a partir de descrições como “imagens de uma câmera corporal da polícia prendendo um cachorro por roubar um bife no Costco”.

O Sora 2 promete um salto tecnológico comparável à evolução do GPT-1 para o GPT-3.5, introduzindo uma precisão física aprimorada e a capacidade de gerar diálogos, efeitos sonoros e ambientação sonora totalmente sincronizados. Além do modelo, a OpenAI lançou um aplicativo mobile que permite aos usuários não apenas criar e remixar vídeos, mas também se inserirem em cenas geradas através de um recurso chamado “participações especiais”, que captura a aparência e a voz do usuário.

Essa tecnologia tem sido usada tanto para entretenimento, quanto para fins nocivos, como a disseminação de desinformação através de falsas filmagens de crimes que nunca ocorreram. A consequência direta é o que muitos especialistas chamam de “o fim do fato visual”: a ideia de que um vídeo pode servir como um registro objetivo da realidade está, como a conhecíamos, terminada.

Os perigos do realismo das IA geradoras de vídeo

Essa mudança de paradigma exige uma recalibragem completa de como consumimos conteúdo online. Ren Ng, professor de ciência da computação na Universidade da Califórnia em Berkeley, adverte sobre o desafio cognitivo que enfrentamos: “Nossos cérebros estão poderosamente programados para acreditar no que vemos, mas podemos e devemos aprender a fazer uma pausa e pensar agora se um vídeo, e na verdade qualquer mídia, é algo que aconteceu no mundo real”, afirmou ao NYT.

A facilidade com que o Sora pode ser usado para criar desinformação é alarmante. Testes com o aplicativo permitiram gerar facilmente falsas filmagens de acidentes de trânsito para fraudes de seguro, vídeos com alegações de saúde questionáveis e até mesmo falsas reportagens de notícias difamando indivíduos.

Editor de vídeos segue como alvo de polêmicas (Imagem: FilipArtLab/Shutterstock)

Diante do potencial de abuso, a OpenAI implementou restrições e mecanismos de segurança para o Sora, como marcas d’água e metadados para rastrear a origem dos vídeos. Com o lançamento do Sora 2, a empresa afirma estar ciente das preocupações e planejou um lançamento responsável, com ferramentas para os usuários controlarem seus feeds, algoritmos de recomendação baseados em linguagem natural e mecanismos para monitorar o bem-estar do usuário, além de medidas de segurança específicas para adolescentes.

No entanto, usuários da primeira versão já descobriram maneiras de contornar as proteções, como simplesmente cortar a marca d’água. Lucas Hansen, fundador da CivAI, uma organização sem fins lucrativos que educa sobre IA, resume o impacto de forma sombria em entrevista ao NYT: “Ninguém estará mais disposto a aceitar vídeos como prova de nada”. A corrida entre a geração e a detecção de conteúdo sintético é feroz, mas a tecnologia de criação avança em um ritmo vertiginoso.

Hany Farid, outro professor de Berkeley e especialista em autenticidade digital, afirma ao NYT que qualquer conselho sobre como identificar um vídeo falso está “fadado a ter vida curta”, pois a tecnologia melhora a cada dia. Para ele, o ambiente informacional atual é caótico.

A longo prazo e especialmente em épocas de eleição no Brasil e no resto do mundo, espera-se que sejam implementadas mais medidas regulatórias sobre o uso da IA. Nesse cenário, uma das maiores preocupações é a disseminação de vídeos falsos que propagam fake news e que, no pior dos casos, poderiam afetar resultados eleitorais.

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