Review: Gradius Origins preserva o legado dos jogos de navinha

Não é de hoje que a Konami vem tirando o escorpião do bolso para resgatar suas principais franquias dos recantos do passado, num movimento que mais empresas de games deveriam adotar em prol da preservação. O histórico da empresa japonesa é favorável, tendo em seu portfólio recente compilações valiosas e para todos os gostos, de Castlevania até Yu-Gi-Oh! e Suikoden.

Sob os cuidados da M2, desenvolvedora que é referência em dar nova vida a jogos antigos, vide os ótimos trabalhos que fez com Castlevania, Contra e Metal Gear, a coletânea de Gradius é de fazer a velha guarda chorar no banho de emoção. E não apenas por contemplar sete títulos da nata dos shmups, mas também por “tornar público” um acervo que moldou a história dos videogames.

Da seleção musical, com todas as faixas dos arcades que ficaram fixadas na cabeça de tantas fichas que gastamos nos fliperamas, às galerias de imagens e manuais da época, a compilação respira os anos 1980 e 1990 e mostra que Gradius sempre esteve à frente de seu tempo em absolutamente todos os elementos que compõem um jogo, inclusive no conceito.

Só a nata do shmup

A coletânea de Gradius é um passo importante na reparação histórica da ideia de que soulslike é o único sinônimo possível de jogo difícil. Rapaz, se você acha que os jogos da FromSoftware são o ápice da dificuldade, experimente jogar a última missão de Gradius III à moda antiga, sem qualquer tipo de facilitador habilitado, em que é preciso fugir de uma base espacial com precisão milimétrica e resiliência de monge. Ah, mas que saudades eu estava de passar raiva em jogo de navinha.

Como mencionei acima, a Konami trouxe um generoso apanhadão de sete games de arcade, cada qual com suas variantes, entre versões americanas e japonesas, totalizando 18 títulos. São eles:

  • Gradius
  • Salamander
  • Life Force
  • Gradius II: Gofer no Yabou
  • Gradius III: Densetsu kara Shinwa e
  • Salamander 2
  • Salamander 3

Embora o pacote seja generoso, a omissão de certos games, como Gradius IV e Gradius V, é sentida, o que me leva a crer que a Konami já esteja planejando uma segunda parte, tal como fez com Castlevania. O grande destaque, no entanto, é a inclusão de um jogo inédito, Salamander 3, sequência direta de uma das sagas mais lendárias de Gradius – minha favorita, aliás.

“Se você acha que os jogos da FromSoftware são o ápice da dificuldade, experimente jogar a última missão de Gradius III à moda antiga.”

Falando especificamente sobre Salamander 3, trata-se de um shmup à altura de seus antecessores: trilha sonora impecável, jogabilidade no ponto, power-ups e level design primoroso, além de uma dificuldade mais adequada, por mais estranho que isso possa soar vindo de um novo Gradius, quase 30 anos após o lançamento de Salamander 2.

Coletânea exemplar

Como coletânea, Gradius Origins, assim como outras coleções produzidas pela M2, não se contenta em oferecer só o básico. Você pode salvar todos os jogos a qualquer momento, rebobinar à vontade e inserir quantas fichas der na telha, sem precisar comprá-las individualmente do tiozinho do fliperama.

Acredite em mim: o recurso de voltar no tempo é quase obrigatório para terminar certos games, mesmo que você tenha muita familiaridade com eles – acho que eu já deixei claro o quanto os Gradius são difíceis, né? É importante ter em mente, entretanto, que o ato de rebobinar compromete sua pontuação, o que, por consequência, o desqualifica dos rankings globais.

Para quem está iniciando agora no gênero, há recursos de acessibilidade bem-vindos, do modo fácil ao invencível. Aos complecionistas de plantão, vale lembrar que, com a invencibilidade ativa, isto é, com a nave imune a todo tipo de dano, troféus e conquistas ficam bloqueados. Então, tenha isso em mente caso sua intenção seja fazer 100%.

Ao fã saudosista, o tempero final é a adição dos materiais históricos. A galeria é, sem dúvida, uma das mais completas que já vi em uma compilação do tipo, com artes conceituais, guias originais e até fotos de recursos usados no desenvolvimento, algo incomum de encontrar. A jukebox, por sua vez, também é um ótimo acréscimo e pode servir de fundo musical enquanto lavamos a louça ou limpamos a casa – experimento testado e aprovado, inclusive.

Vale a pena?

Honestamente? Se você tem algum tipo de apego emocional pela série, Salamander 3, por si só, já faz a coleção valer a pena. Gradius Origins, mais que relembrar a era de ouro dos shmups, celebra o legado de 40 anos da franquia mais relevante e prolífica do gênero. Ainda que esse estilo de jogo já não tenha o mesmo apelo de outrora, a Konami ao menos se esforçou para mantê-lo vivo em nossas memórias.

Nota: 90

Prós (pontos positivos):

  • O Salamander 3, por si, só, já faz valer a coleção;
  • Quase todos os jogos envelheceram bem;
  • Recursos de acessibilidade bem-vindos;
  • Rankings globais para os veteranos dos arcades;
  • Acervo histórico valioso para fãs.

Contras (pontos negativos):

  • Dava para ter apertado e colocado mais jogos.

Uma cópia de Gradius Origins foi gentilmente cedida pela Konami para o propósito de análise no PlayStation 5. O jogo também está disponível para Xbox Series S|X, Nintendo Switch e PC.

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