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Review: Hyrule Warriors: Age of Imprisonment é o rei do musou

by Fesouza
9 minutes read

Poucas coisas nos videogames são tão gratificantes quanto surrar centenas de oponentes com uma sequência de combos devastadora, como se os inimigos fossem feitos de papel. A sensação de imponência e superioridade máxima em qualquer game musou é dopamina imediata para o cérebro, além de um lembrete de que games também podem (e devem) ser diversão despretensiosa.

Nascido em Dynasty Warriors, lá nos tempos do PlayStation 1, sendo um spin-off de outra série da Koei Tecmo baseada no Romance dos Três Reinos, o musou é, em bom tecniquês, uma vertente do hack and slash. Seu diferencial, contudo, está em promover batalhas de larga escala contra multidões e incorporar elementos de estratégia, em contraste antagônico com o combate descerebrado.

Apesar de ser um gênero de nicho, a Koei Tecmo logo percebeu que seu potencial de expansão residia em spin-offs. O musou rapidamente se provou um estilo polivalente, capaz de reproduzir diferentes universos do entretenimento com alta fidelidade, de One Piece a Berserk. No entanto, com Hyrule Warriors: Age of Imprisonment, a nova adaptação de The Legend of Zelda, o musou alcança outro nível de excelência.

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Novo Hyrule Warriors chega para Nintendo Switch.

Um excelente complemento de Tears of the Kingdom

Adaptar franquias famosas é sempre um desafio, já que muitos fatores precisam ser considerados: não mexer na timeline (a de Zelda, diga-se, é complexa que só), não distorcer acontecimentos das histórias originais e, sobretudo, não desapontar quem espera fanservice nesse tipo de recriação. Tudo isso sem que a homenagem pareça forçada ou superficial.

A Koei Tecmo conhece bem o vespeiro de Zelda que cutucou, mas sabe que tem bagagem suficiente para a tarefa, vide o excelente trabalho que fez em Hyrule Warriors: Age of Calamity. Não vou mencionar o Hyrule Warriors original aqui, porque ele funciona mais como um apanhadão da série. Quando o assunto é Zelda, a desenvolvedora sempre fez a lição de casa.

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Hyrule Warriors se passa no universo de Zelda. 

Age of Imprisonment está para The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom assim como Hyrule Warriors: Age of Calamity está para The Legend of Zelda: Breath of the Wild. Ou seja, Age of Imprisonment é um complemento à história de Tears of the Kingdom e explica, com surpreendente profundidade, a tão mencionada Guerra do Aprisionamento.

Zelda viaja ao passado para conhecer de perto a sacerdotisa Sonia, bem como o fundador de Hyrule, Rauru, o Rei Zonai. Enquanto procura um meio de retornar ao presente, a heroína é incumbida de ajudar Rauru a impedir que Ganondorf, o Rei Demoníaco, sob o domínio de uma misteriosa entidade desperta, se apodere de Hyrule, pois as ações do passado podem ter impacto direto em sua era.

E sim, Zelda assume um protagonismo semelhante ao que tem em The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom, como era de se imaginar pelos materiais de divulgação. É interessante ver como a Nintendo está, aos poucos, desenvolvendo melhor a personagem, sem que ela precise estar vinculada a Link para brilhar. Falando nele, bem… vou deixar para você descobrir por conta própria se ele está presente no jogo ou não (ou não do jeito convencional).

Bom, isso é tudo que me limito a dizer sobre a trama. O que posso compartilhar é que Age of Imprisonment se mostra um título bem mais narrativo que qualquer outro musou por aí, sendo um deleite para fãs de Zelda que adoram mergulhar na lore e levantar teorias. O tom também se mostra mais sombrio que o normal e tem sua justificativa, mas é recomendável que você tenha jogado Tears of the Kingdom para se situar e entender o motivo.

Variedade é o lema do combate

O foco maior ainda é o combate contra os milhares de lacaios de Ganon. Você deve varrer legiões com combos ensaiados e sincronizar ataques leves e pesados para ver o show acrobático acontecer. Golpear inimigos e fazê-los pular como pipoca na panela é algo tão prazeroso que dá para ficar horas nisso sem ver o tempo passar.

Vai por mim: você vai jogar sem parar até a tendinite pedir arrego. Como forma de quebrar a repetição do musou, Age of Imprisonment entrega um cardápio generoso de personagens, cada qual com um estilo único de se portar em batalha. Zelda, por exemplo, utiliza ataques de luz, de curta e média distância, enquanto Mineru, irmã do Rei Rauru, manipula dispositivos Zonai para atacar em seu lugar.

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A Koei Tecmo sempre tomou esse cuidado ao criar personagens com estilos de combate únicos, tal como em um jogo de luta, mas aqui se superou. Cada herói imprime seu próprio ritmo, com combos e especiais exclusivos, e você ainda pode modificá-los com outras skills e equipá-los com tecnologia Zonai, elevando a complexidade a um nível pouco comum em musous.

Esquivar e dar parry são ações ainda mais satisfatórias de se executar em relação aos jogos anteriores de Zelda, uma vez que se beneficiam das melhorias introduzidas em Dynasty Warriors: Origins, até então o musou mais atual. Há, inclusive, como aparar ataques de diferentes ângulos, até golpes vindos de cima, e o segredo continua sendo quebrar a guarda do oponente para se sair bem.

A cereja do bolo são os especiais em dupla, os chamados Sync Strikes, que combinam o poder de dois personagens para desferir um golpe que passa por cima de tudo, limpando o campo de batalha, literalmente. Existem diversas maneiras de lidar com os inimigos, dos comuns aos chefes de área, e variedade é o lema do combate de Age of Imprisonment.

Hyrule em três camadas

Da mesma forma que Age of Calamity reaproveita o mapa de Breath of the Wild, Age of Imprisonment reutiliza a estrutura de Tears of the Kingdom, geograficamente falando. Você não pode circular livremente pelo mundo aberto nem nada do tipo, mas consegue cumprir missões por toda a sua extensão. O jogo, vale pontuar, ainda segue o modelo de fases de Age of Calamity.

Em comparação com seu antecessor, Age of Imprisonment entrega um conteúdo mais robusto graças à adição das profundezas e do mapa das ilhas no céu, além da já conhecida superfície. As três camadas contribuem para uma experiência mais duradoura, que estimula a repetição em fases de curta duração, mas frenéticas do começo ao fim.

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Como uma tentativa de inovar e sair da bolha, o título também se arrisca em atividades que você não encontra em outros musous, expandindo o que Age of Calamity tentou fazer nos trechos jogáveis com as Divine Beasts. Em uma delas, por exemplo, enfrentamos um dragão de três cabeças num encontro aéreo à la Star Fox. Inesperado, para dizer o mínimo, mas absolutamente cinema (nem é meme).

O sistema de progressão, por sua vez, segue por níveis: você evolui cada personagem individualmente e pode aprimorar seus equipamentos por meio das fusões. As missões também têm níveis e exigem que você se prepare adequadamente antes de abraçar o desafio, o que não é tão necessário nas dificuldades mais baixas.

Tecnicamente soberbo, ufa

Tão bonito quanto Tears of the Kingdom, Age of Imprisonment mantém o estilo de arte dos dois últimos Zeldas 3D e oferece uma experiência visual embasbacante, com uma qualidade crocante que remete às versões de Switch 2 desses títulos. O jogo mostra a que veio no recém-lançado híbrido e deixa bem evidente o motivo pelo qual o Switch original ficou de fora da brincadeira: desempenho. O Switch não “tankaria” algo nessa escala.

Depois de tanto tempo habituado às quedas de Hyrule Warriors: Definitive Edition e conformado com a baixa taxa de frames de Hyrule Warriors: Age of Calamity, fiquei aliviado ao presenciar a fluidez de Age of Imprisonment. Confesso que esperava engasgos na performance, ainda que mínimos, mas, pasmem, eles quase não aconteceram – o Switch 2, aliás, parece nem se esforçar tanto para sustentar os 60 fps.

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Também preciso destacar a trilha sonora incrível que conduz os combates. De músicas mais novas de Breath of the Wild e Tears of the Kingdom até composições clássicas, o spin-off mostra por que Zelda sempre foi referência no quesito sonoro e dá continuidade ao legado de suas grandes trilhas. Nota 10 aqui também, sem surpresas.

Vale a pena?

Hyrule Warriors: Age of Imprisonment não só consegue ser o ápice do musou, trazendo, do combate à estrutura, variedade a um gênero marcado pela repetição, como também se firma com excelência na lista de Zeldas canônicos. A Koei Tecmo assimila tudo aquilo que torna a franquia Zelda tão especial e entrega uma obra digna de deixar Eiji Aonuma e Shigeru Miyamoto orgulhosos.

Nota: 95

Prós (pontos positivos):

  • O combate é o ápice do musou: variedade é o lema;
  • A história complementa de maneira exemplar a lore de Tears of the Kingdom;
  • Hyrule em três camadas oferece muito mais conteúdo;
  • Visualmente crocante, com desempenho estável;
  • Trilha sonora soberba;
  • Tom mais sombrio que o de Age of Calamity.

Contras (pontos negativos):

  • Sem textos em português do Brasil;
  • Resolução inferior nas cutscenes.

Uma cópia de Hyrule Warriors: Age of Imprisonment foi gentilmente cedida pela Nintendo para o propósito de análise no Nintendo Switch 2. O jogo está disponível exclusivamente para o Switch 2.

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