Mafia: The Old Country é o novo jogo da icônica franquia que, como o nome sugere, traz como tema principal o mundo do crime organizado. O game volta no tempo, trazendo um enredo no começo de tudo, mais precisamente no início do século 20, quando as organizações mafiosas começaram a expandir os seus territórios.
E uma das principais novidades do novo jogo é um foco maior em missões furtivas, mas sem perder os elementos de sucesso que consagraram a franquia, como uma jogabilidade diversificada, e um enredo envolvente. Mas será que tudo isso valeu a pena? Confira o review completo!
Mafia não é GTA!
Antes de tudo é preciso reafirmar que Mafia não é igual a GTA. Embora no último capítulo da franquia, Mafia 3, o jogo tenha flertado um pouco com a proposta da série da Rockstar, com um mundo mais amplo e mais missões além das principais, ainda assim ele nunca foi uma versão mais antiga de Grand Theft Auto, ou até mesmo uma “copia”, só que voltada para a história das máfias.
E Mafia: The Old Country deixa claro que essa comparação não deve existir. A começar pela linearidade do game que, mesmo com um amplo mapa aberto e com vários locais para exploração, dificilmente você terá tempo e oportunidade para poder vagar por ele. Isso porque não há missões secundárias ou coisa do tipo, apenas um foco na campanha principal.
Além disso, dentro das próprias missões há também uma linearidade que te impede de sair de determinados locais onde ocorre a ação, ou até mesmo de pegar atalhos em perseguições de carros ou a cavalo. Em outras palavras, para quem gosta de vagar livremente em busca de atividades fora do roteiro principal, como GTA te convida a fazer a todo momento, Mafia não permite isso. Uma pena, pois este é de longe um dos mundos mais agradáveis já feitos para um jogo do gênero.
Oscar de melhor roteiro original
A história principal de Mafia: The Old Country é de longe o ponto alto do jogo. Para quem não sabe, o enredo se passa antes de qualquer capítulo da franquia, mais precisamente no ano de 1900, na ilha de Sicília, na Itália, e mostra o começo das máfias italianas e como elas se expandiram mundo afora.
No game você assume o controle de Enzo, um jovem minerador que depois de passar poucas e boas em seu trabalho forçado, acaba fugindo e sendo acolhido por uma família rival a de seus antigos “chefes”. Esse é o momento onde o jovem começar uma nova vida, aprendendo bastante com seus novos aliados.
A partir desse momento, Enzo inicia uma jornada no mundo do crime, que parte desde um simples empregado na mansão italiana, até se tornar uma espécie de braço direito de Bernardo Torrisi, o magnata da família. E toda essa jornada é muito bem construída, seja pela forma com o que o enredo se desenvolve, como pela experiência que o personagem vai adquirindo de uma forma bem progressiva.
Em outras palavras, é muito interessante acompanhar Enzo aprendendo desde simples rotinas do dia a dia, até vê-lo executar missões que colocam a sua vida em risco. O mesmo vale para outras perícias, como cavalgar e até pilotar carros de corrida em provas na região.
“O game tem um dos roteiros mais bem construídos dos últimos anos.”
Ainda sobre a história, há espaço tanto para elementos clichês, como atos de heroísmo e um romance proibido com a filha do seu chefe, até algumas reviravoltas que me pegaram de surpresa, e que obviamente não vou revelar para não dar qualquer tipo de spoiler. Sendo assim, não é exagero dizer que o game tem um dos roteiros mais bem construídos dos últimos anos, e digno de um bom filme ou série sobre a temática. Mesmo sendo um tema tão explorado em diversas obras visuais.
Entretanto, como nem tudo são flores, esse mesmo ponto alto do game pode ser o seu “calcanhar de aquiles”. O motivo é que Mafia: The Old Country abusa em focar mais na história do que no próprio gameplay. Em outras palavras, a sensação é de que há mais cenas de animações e diálogos do que de ação em si. Por conta disso, há uma linha de corte que pode afastar muitos jogadores, principalmente os que prezam por mais ação, ao ponto de correr todo tipo de diálogo menos importante.
E para completar, vale lembrar também que Mafia: The Old Country é muito curto. Me arrisco a dizer que o jogo leva de 10 a 12 horas para ser concluído. Porém, esse tempo pode ser ainda muito menor caso o jogador opte por correr todas as animações, e usar a opção Viagem Rápida, que é um recurso que pula todo o trajeto de carro ou cavalo até uma missão.
Um mafioso sorrateiro
A jogabilidade de Mafia: The Old Country mantém os elementos básicos dos outros jogos da franquia, mais precisamente os dois primeiros capítulos da saga. Entretanto, há uma novidade neste capítulo: as missões furtivas. Embora elas tenham sido apresentadas como um dos pilares do novo título, é possível contar nos dedos as vezes onde é obrigatoriamente seguir a missão de uma forma sorrateira.
Em outras palavras, embora o foco de algumas delas seja atingir seu objetivo sem ser visto, caso isso aconteça, o máximo que pode acontecer é aparecer uma enxurrada de inimigos para lhe deter. Porém, caso você se garanta nos combates, é até mais rápido e efetivo seguir dessa forma.
Já nas missões obrigatoriamente furtivas, foi possível notar uma certa facilidade para concluí-las, mesmo em níveis de dificuldades mais altos. Isso porque o “caminho” para seguir sem chamar atenção também é muito linear, e pode ser concluído sem grandes dificuldades. Ajuda também os inimigos possuírem um comportamento que ajuda bastante, seja por longos períodos sozinhos e destacados para serem facilmente abatidos, ou por ter muitos locais para se esconder sem que eles notem a sua presença.
E por se tratar de um jogo ainda mais no passado, mais precisamente no início do século XX, alguns elementos foram alterados para que a sua mecânica fosse ainda mais realista. Isso fica nítido no sistema de combates, onde é preciso usar armas da época, que por sua vez são mais limitadas do que as que são vistas com frequência em jogos do gênero.
Com elas, é preciso ser mais preciso, já que não há mira automática ou algo parecido. Para isso, você precisa manter a mira o máximo possível em cima dos inimigos a serem alvejados, para que haja uma precisão maior. Além disso, é preciso lidar com o tranco de armas mais pesadas, e a escassez de balas, já que as mesmas não contam com pentes expansivos.
O mesmo vale para os carros. É possível notar uma grande diferença entre eles, inclusive em modelos mais simples, que perdem a velocidade em subidas. Ao mesmo tempo é um tanto divertido disputar corridas com as antigas máquinas da época. Pena que esse momento de diversão seja tão único, já que ele só ocorre em uma missão da campanha principal.
O jogo também traz um sistema de batalha de facas. Nele, você precisa encarar um desafio contra um oponente usando um canivete, navalha, ou algo cortante, em um mecanismo de ataque e defesa, e com barras de energia, que simulam um game de luta.
Esse mesmo sistema tem seus altos e baixos. Gostei muito da forma com que ele não é automatizado como boa parte das mecânicas similares. Ou seja, nada de ter que depender do famoso movimento de esperar o ataque de seu adversário para esquivar e contra golpear. Em muitos momentos, inclusive contra chefes e inimigos mais importantes, tive sucesso em simplesmente encurralá-los e partir para um ataque frenético.
Em contrapartida, há um delay gigantesco para realizar os comandos. Por conta disso, é preciso se acostumar com esse tempo maior, e ter consciência de que, a qualquer momento, você pode ser atingido pela demora entre o acionamento do botão e a realização do comando. Além disso, as armas utilizadas nesse combate podem ser equipadas para melhorar determinados atributos, ou até mesmo lhe conceder vantagens, como recuperação de energia após um combate, ou um saque automático dos itens do inimigo abatido com ela.
Por fim, há um sistema de amuletos onde é possível equipá-los para obter vantagens no jogo, como melhorar a sua mira, ou até mesmo abafar o som de seus passos ao caminhar. É possível encontrá-los espalhados pelo mapa, ou em missões específicas, Nelas, caso você não colete-os naquele momento, terá que reiniciá-la para obtê-los, pois não há como voltar em certos locais no modo de exploração.
Um mundo encantador, mas totalmente limitado
Como dito anteriormente, a reprodução da região da Sicília do começo do século 20 é uma das mais encantadoras já feitas. Desde o começo do jogo, é impossível não se encantar com a fiel reprodução, desde as construções da época, até o alto nível de detalhes dos cenários, como variedade de plantações, tipos de estradas, e até mesmo um relevo que não se limita ao plano na maior parte do tempo.
Para a produção do review, foi utilizado um PC com as seguintes configurações:
- Placa Mãe: Asus Rog Strix Z790-h Gaming
- Placa de Vídeo: GeForce 4070 Ti Super
- Processador: Intel i7 14700k
- Memória RAM: 32GB Kingston Fury Renegade
Com isso, pude jogar Mafia: The Old Country com as opções gráficas no Ultra, e com o game rodando a 120fps estáveis, mesmo em momento com diversos elementos na tela. Mas o que chamou mais atenção foi o sistema de luz e sombra do jogo, principalmente ao cruzar as estradas da região e perceber o quanto o posicionamento do sol, e o horário das atividades, alteram de forma realista toda a iluminação do ambiente ao seu redor.
Entretanto, a reprodução dos personagens deixou um pouco a desejar pela sua limitação. A todo momento é possível se deparar com os mesmíssimos inimigos, usando a mesma roupa e tendo o mesmo comportamento. Em um caso específico, me deparei com três oponentes idênticos, um ao lado do outro, trocando tiros comigo. Ficou uma estranha sensação de “CTRL + C” e “CTRL + V” que poderia ter sido evitada com um capricho maior.
Mas o que me incomodou mesmo foi a limitação do game. Como dito anteriormente, Mafia: The Old Country é um game extremamente roteirizado, ao ponto de incomodar mesmo diante de uma história tão envolvente. Além do fato de não existirem missões secundárias, há poucas formas de você explorar o imenso mapa do game. Uma delas é esperar um tempo entre uma missão e outra, que por sua vez é raro de acontecer, e pegar o seu carro ou cavalo para desbravar as estradas sem compromisso.
Outra forma é usar um sistema chamado Veiculopédia. Nele, é possível escolher e comprar novos carros, e explorar o mapa com eles, como se fosse uma espécie de test drive. Ao explorar o mapa, você pode adquirir novos itens cosméticos, melhorias para seu personagem, ou até mesmo procurar itens colecionáveis. Entretanto, nada é tão atrativo ao ponto de justificar perder tanto tempo, já que ao terminar o game, sequer é possível usá-los novamente.
Se não bastasse, dentro desse enredo há também limitações que incomodam. Em uma das missões mais divertidas do game, onde você participa de uma corrida de carros, após largar em último lugar por conta de problemas mecânicos, você precisa fazer uma prova de recuperação para chegar em primeiro. Na minha primeira tentativa, em um determinado momento me choquei contra um adversário e meu carro ficou ao contrário na pista. Perdi muito tempo com isso, mas mesmo assim ainda consegui passar todos e chegar em primeiro lugar.
Não satisfeito, repeti a missão e percebi que os mesmos oponentes ficam praticamente nos mesmos lugares da prova. Ou seja, independente do tempo que eu levar, eu sempre vou encontrá-los naqueles locais, como se estivessem parados me esperando. Isso sem falar em outros exemplos, como atalhos que não podem ser percorridos por conta de barreiras invisíveis, ou locais onde você não pode sequer pular uma janela para se proteger do tiro, obrigando você a ficar naquele mesmo espaço.
Por conta disso, Mafia: The Old Country acaba não sendo tão divertido, por obrigar a todo momento o jogador a seguir à risca a sua história principal. Com isso, fica uma sensação de déjà vu de jogos mais antigos, que também impediam isso, mas não porque queriam, e sim por falta de tecnologia adequada na época em que foram lançados.
Vale a pena?
Mafia: The Old Country conta com um dos roteiros mais bem escritos e desenvolvidos dos últimos anos. Ele é um prato cheio para quem busca uma narrativa imersiva, com uma história digna de um bom filme ou série sobre a máfia italiana, junto a uma jogabilidade com altos e baixos, mas que se encaixa muito bem na proposta do game.
Entretanto, isso acaba sendo um tiro no pé para quem busca jogos de mundo aberto, justamente por ele não contar com um. Ao tentar desbravar toda a região do game, e perceber que não há nada mais a se fazer além da campanha principal, a sensação que fica é a de que estamos morando em uma enorme mansão, sem poder sair de um quarto sem que sejamos guiados por alguém segurando a nossa mão.
Nota: 70
Pontos positivos (prós):
- Narrativa criativa e envolvente
- Ambientação encantadora
- Missões diferenciadas e divertidas
- Jogabilidade realista
Pontos negativos (contras):
- Um mapa imenso sem missões secundárias
- Curto demais
- Sistema de combate com delay alto
- Sem dublagem em português
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