Tem sido cada vez mais raro, infelizmente, ver jogos de plataforma 3D produzidos fora do eixo Nintendo. É triste, sim, porque é bem provável que você, caro leitor, assim como este redator que vos escreve, tenha crescido com o gênero e aprendido a gostar de videogames com esse tipo de experiência, seja no 2D ou no 3D.
Talvez muita gente não se lembre, mas, pouco depois da virada do milênio, no mesmo ano em que Super Mario Sunshine foi lançado no GameCube, o jogo mais controverso do encanador bigodudo, tivemos outro grande destaque: Pac-Man World 2, sequência direta de Pac-Man World, de 1999, um marco para a sexta geração de consoles.
A série World de Pac-Man foi eternizada não apenas por transpor o Come-come à perspectiva 3D, mas também por ter rendido jornadas incríveis, à altura de suas influências, explícitas a quem é minimamente familiarizado com esse estilo. Mais de duas décadas depois, Pac-Man World 2 ressurge no aniversário de 45 anos do mascote e entrega mais do que se espera de um remake.
Formato convencional de aventura/plataforma em 3D
Faz falta um jogo como Pac-Man World 2 nos dias de hoje. Se desconsiderarmos as obras da Nintendo, dá para contar nos dedos quantos lançamentos desse tipo existem. Assumidamente inspirado nos jogos 3D do Mario, World 2 segue o formato convencional de aventura/plataforma em 3D: são 25 fases espalhadas pelas seis ilhas de Pac-Land.
As fases jogam seguro e são tematizadas como manda a cartilha do gênero: temos o mundo de gelo, o de lava, a área com trechos aquáticos, minha favorita, e por aí vai. A reciclagem visual dos mapas, inclusive, expõe as limitações da época, ainda que tudo tenha sido devidamente refeito em um novo motor gráfico e adaptado às plataformas atuais.
Por outro lado, o level design se mostra atemporal. Os desafios são inventivos e buscam novos ares a cada fase, sempre recheados de referências às produções dos fliperamas. Você vai escalar, mergulhar, andar pelas paredes, descer montanhas, saltar em trampolins e, naturalmente, engolir muitos fantasmas em trechos com mecânicas clássicas do Come-come.
Em relação a outros títulos na mesma pegada, Pac-Man World 2 se diferencia por incluir uma batelada de colecionáveis, recompensando, com cosméticos, o jogador que se dedica a coletar todas as frutas. Apesar de serem lineares, com caminhos bem delimitados, os cenários resguardam segredos e camuflam, de forma brilhante, os itens necessários para fazer 100%.
Novos artifícios
Assim como no jogo original, os comandos são simples e fáceis de dominar: pular, comer fantasmas, golpear e quicar para atingir alturas maiores, mas novos truques foram introduzidos para dar ainda mais liberdade de movimento à bolota amarela. Cá entre nós, as ações de Pac-Man na versão de 2002 eram um bastante limitadas.
Agora, a bolinha também é capaz de arremessar esferas, flutuar para alcançar obstáculos que demandam mais precisão e, de lambuja, ganhou uma sombra que indica exatamente o local em que vai aterrissar depois de um salto performático. Todas as mudanças são bem-vindas: refinam a jogabilidade, aproximam o game da modernidade e ajudam a eliminar frustrações.
Mesmo com todos esses ajustes, ainda sinto que o boneco executa manobras um tanto erráticas, sobretudo ao tentar dar pulos mais altos e lançar projéteis de energia. Se a dificuldade estiver sendo um problema, você pode habilitar o Modo Fada, outra novidade do remake, para tornar o mascote imune a qualquer tipo de dano, além de evitar que ele caia de precipícios.
Remake de luxo
Conforme comentei no início da análise, Pac-Man World 2 Re-Pac não se contenta em ser o remake 1:1 e faz mais do que devia, ainda bem. Em termos de conteúdo, há uma campanha extra, com versões remixadas das fases, desbloqueada assim que os créditos rolam na tela – algo que seria cobrado à parte se fosse um jogo da Nintendo.
Além disso, as fases receberam missões extras, a vila tem novas atividades e uma área dedicada às máquinas de gacha, que vendem estatuetas que estimulam o colecionismo, no melhor estilo Kirby and the Forgotten Land. Um modo de corrida contra o tempo, com rankings e tudo mais, e a possibilidade de se aventurar com um amigo no cooperativo local, que é uma ótima adição, ficam como a cereja do bolo.
Por fim, devo ressaltar o excelente trabalho de localização para o português do Brasil, cujos textos tornam os personagens ainda mais carismáticos do que eram originalmente. A inclusão de uma dublagem impecável em inglês também contribui para dar mais vida à família do icônico mascote amarelo. Nota 10 nesses dois quesitos.
Vale a pena?
Pac-Man World 2 Re-Pac faz uma retrospectiva das qualidades do Come-come em um jogo de plataforma 3D que se prova à frente do seu tempo. Como remake, cumpre todas as exigências de uma atualização e vai além: injeta mais conteúdo e dá uma bela polida em tudo aquilo que funcionou no título original, já charmoso à época, sem descaracterizá-lo.
Nota: 85
Prós (pontos positivos):
- Preserva o charme do original;
- Não se contenta em ser remake 1:1;
- Melhorias gráficas significativas;
- Muito conteúdo novo;
- Ajustes finos na jogabilidade.
Contras (pontos negativos):
- O mascote ainda executa movimentos erráticos;
- Reciclagem visual em certas fases.
Uma cópia de Pac-Man World 2 Re-Pac foi fornecida para o propósito de análise no PS5 Pro. O jogo está disponível para PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series S|X, Nintendo Switch, Nintendo Switch 2 e PC.
