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Review: Silksong oferece desafios divertidos, mas também pode ser cansativo

by Fesouza
12 minutes read

Originalmente concebido em uma Game Jam em 2013 e financiado no Kickstarter no ano seguinte, Hollow Knight foi lançado em 2017 com a intenção de trazer uma aventura Metroidvania bastante inspirada em jogos dos anos 1980 e 1990. Se suas origens foram mais humildes,  não dá para negar que a sua eventual recepção com a crítica e o público foi estrondosa.

Considerado como um dos melhores jogos do gênero, Hollow Knight teria diversos DLCs em seu futuro, mas o mais aguardado era Silksong, a expansão que nos permitiria jogar como Hornet, nossa antagonista e aliada no game. O DLC era um dos objetivos alcançados pelo financiamento do Kickstarter, mas a Team Cherry, estúdio responsável pelo game, logo percebeu que havia mais na aventura de Hornet do que uma mera expansão poderia disponibilizar. 

Em 2019, os desenvolvedores anunciaram que Hollow Knight: Silksong seria um jogo completo e que seria lançado em um futuro distante. Após 6 anos de uma longa espera, altas expectativas e muitos memes no meio do caminho, Silksong finalmente chegou aos consoles e ao PC em 2025. 

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A Team Cherry achou que não seria justo com os fãs se eles enviassem códigos antecipados para jornalistas realizarem suas análises, então o nosso review (e o de muitos outros veículos) chega algumas semanas após o lançamento, com 60 horas de muita exploração, combate e mortes frustrantes. Você pode conferir nossas impressões e análise completa logo a seguir.

Melhor em tudo

Logo nos primeiros minutos, Silksong mostra claramente que é um aprimoramento de Hollow Knight em todos os elementos possíveis. Seu visual, a trilha e efeitos sonoros, a diversidade do combate, a movimentação, as opções de jogabilidade, o design dos cenários, etc. É uma daquelas situações que até torna estranho a volta para o antecessor, algo que eu fiz por algumas horas para ter uma comparação melhor de alguns fatores. Não há qualquer dúvida que a Team Cherry usou esse longo tempo de desenvolvimento para fazer o jogo exatamente do jeito que queriam.

Isso é um fator que se mantém ao longo das dezenas de horas que você pode passar em Silksong. Eu levei 60 horas para zerá-lo, mas esse tempo pode variar muito para cada jogador, já que depende do quanto você vai explorar, procurar segredos, preencher seu diário de caçador, coletar todas as ferramentas, voltar para áreas previamente exploradas ou até quanto tempo vai perder morrendo para inimigos comuns, chefes ou para o próprio cenário. O que dá para tirar disso é que não falta conteúdo em Silksong, algo muito impressionante pelo preço relativamente baixo cobrado pela Team Cherry.

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As melhorias são tantas que até os jogadores que não se deram tão bem com Hollow Knight podem encontrar uma experiência bem mais satisfatória em Silksong. Os mapas não são tão confusos no começo, especialmente porque agora há uma linearidade bem maior nas primeiras horas do game. Além disso, há muitos NPCs interessantes que você pode acompanhar ao longo da sua jornada ou que te dão informações importantes sobre seus objetivos e quests. 

Silksong mostra claramente que é um aprimoramento de Hollow Knight em todos os elementos possíveis.

Ainda há múltiplas áreas que podem oferecer upgrades valiosos no caminho, sejam eles algo mais fixo ou em forma de itens que podem ser equipados. Mesmo para seguir para o ato 2 do game, tudo é bem objetivo, mas o game ainda te dá bastante liberdade e até rotas alternativas de como chegar lá, seguindo um excelente princípio do gênero.

A adição de brasões, ferramentas e habilidades também são incríveis. Isso permite que você escolha como jogar, como encarar o combate, como se movimentar e que vantagens quer ter durante a aventura. O melhor de tudo é que você não precisa se prender a um único estilo, você pode alterar sua build ao mudar esses 3 componentes chave a qualquer momento. Esse tipo de liberdade se aproxima muito mais de um jogo Soulslike, um gênero que já influenciava o primeiro Hollow Knight e que acredito ter ainda mais presença em Silksong.

Esqueça o Cavaleiro, aceite a Hornet

Algo que vai melhorar a sua vida em todos os aspectos em Silksong é esquecer sua jornada como o pequeno Cavaleiro no primeiro jogo. Agora você está no papel de Hornet e deve aprender a jogar como ela em vez de repetir sua jornada anterior. Ela é uma personagem muito mais móvel, ágil e frágil do que nosso antigo protagonista, mas também oferece um arsenal e habilidades mais flexíveis do que ele, como já mencionamos com seus brasões e ferramentas.

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No começo, você definitivamente pode estranhar a movimentação da pequena aranha, ainda mais em seu ataque para baixo, que é diagonal e difícil de acertar nas primeiras horas. Isso pode ser alterado com os outros brasões, mas a minha dica é abraçar os diferentes estilos de jogo e usá-los em seu benefício em situações variadas. Isso acaba sendo muito melhor do que escolher apenas um brasão e usá-lo fixamente durante o game todo, apesar de ser uma escolha muito viável.

A fragilidade que mencionei é muito perceptível na quantidade dano que Hornet toma de inimigos, mesmo os mais fraquinhos ou apenas ao encostar nos bichos com os quais está tomando. Com 5 contadores de vida no início, é comum que Hornet tome 2 de dano nos combates, podendo morrer em apenas 3 golpes, algo muito raro de acontecer com o Cavaleiro no game original. Isso não muda quando você finalmente adiciona um contador de vida extra, dando a impressão de uma progressão e evolução mais lenta para a personagem.

Isso também é sentido no dano que Hornet causa aos seus inimigos, já que até as moscas pequenas e aparentemente frágeis precisam de muitos golpes para serem derrotadas. É possível fazer algumas melhorias à arma de nossa protagonista, mas a situação não muda tanto assim e você continua tendo que dar múltiplos golpes para lidar com os bichos de Pharloom. É aí que entra o pensamento de não jogar como o Cavaleiro e sim em usar as outras habilidades de Hornet em seu favor.

As grandes armas secretas de Hornet são sua agilidade, agressividade, habilidades de seda, ferramentas. Você precisa usar tudo e não contar apenas com golpes normais da sua agulha. Quando passa a usar tudo ao seu dispor, o ritmo do jogo faz mais sentido, mas isso não necessariamente o torna mais fácil, uma boa notícia para os fãs que gostam de desafios.

Um jogo feito sob medida

Além de tudo o que já falamos sobre o título, outra sensação que fica com a gente durante o gameplay é que esse também é o jogo feito sob medida para aqueles fãs apaixonados por Hollow Knight. Vocês sabem, aqueles fãs que continuaram jogando e falando sobre o game desde 2017, que fizeram absolutamente tudo o que estava disponível no título e que que conseguiram derrotar a maioria dos chefes sem tomar dano.

Silksong é, acima de tudo, um jogo perfeito para esses fãs específicos. Eu não tenho qualquer dúvida a maior parte desses jogadores vai amar o game e que praticamente não encontrarão defeitos nele. Inclusive, eu digo isso depois de ter visto e falado com fãs assim e que realmente se apaixonaram por tudo o que a Team Cherry entregou no novo título. 

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Só que a gente sabe que das 15 milhões de cópias que Hollow Knight vendeu, apenas uma porção dos jogadores é tão dedicada assim. Eu faço parte dos fãs mais genéricos, já que zerei o primeiro game apenas uma vez, mas amei a aventura e estava feliz de ter a chance de jogar sua sequência, embora não tivesse uma ansiedade ou grande expectativa com ela. Dá para dizer que a minha experiência foi bem longe de um mar de rosas, se aproximando muito mais de um mar de espinhos.

Na beira entre a diversão e a exaustão

Para quem aprecia um Metroidvania de vez em quando ou para quem não tem tanto tempo para se dedicar em melhorar os reflexos ou habilidades de plataforma, Silksong pode ser um jogo bem diferente. Apesar de ser bem divertido e ter uma ótima execução em suas mecânicas, eu achei o game bem exaustivo ao longo de toda a jornada, com o sentimento se acumulando ainda mais do meio para o final.

O título é naturalmente mais difícil do que seu antecessor, mas também te dá mais ferramentas e mobilidade para lidar com essa dificuldade. O problema não é necessariamente esse, já que nunca me encontrei em uma situação em que pensei que era impossível matar um inimigo ou passar por uma seção mais complicada de plataforma. A parte é que há muitos elementos que não adicionam algo na dificuldade em si, mas que tornam nossa abordagem ou interação com essa dificuldade em algo chato e que, eventualmente, cansa.

Um exemplo disso são os inúmeros inimigos que voam, jogam projéteis em Hornet, se aproximam para atacar de perto e ainda desviam ou bloqueiam seus ataques repetidas vezes. Tudo isso enquanto você está em uma única plataforma pequena e cercada de espinhos. 

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Essa situação é muito comum durante o game inteiro e às vezes você precisa ficar pulando sem parar para tentar acertar o bicho, enquanto ele fica voando para trás para desviar. Claro, você pode utilizar ferramentas, mas elas tem uso limitado e acabam rapidamente, ainda mais quando você está explorando. Isso não é difícil, apenas algo que leva mais tempo do que deveria e que se repete demais, tornando-se exaustivo.

Também há os runbacks (o caminho que tem que fazer do último ponto salvo até seu objetivo) cansativos com os quais terá que lidar para enfrentar chefes, arenas de inimigos ou só para tentar passar por um cenário perigoso. Algumas dessas atividades requerem várias tentativas e, muitas vezes, esses runbacks se tornam muito chatos e não adicionam algo interessante no desafio que o jogador está tentando superar. 

No geral, fiquei com a sensação de que tinha sempre algo mais tedioso ou irritante no caminho de algo muito divertido ou interessante em Silksong. Além disso, certas partes do mapa não possuem uma variedade equilibrada em suas seções de plataforma, exigindo que você sempre repita os mesmos movimentos até conseguir passar por elas. Em momentos variados, fiquei com os dedos bem machucados ao apertar os mesmos botões diversas vezes, o que me fazia ter que parar de jogar por algumas horas.

Esses são só alguns exemplos que posso dar para ilustrar o que quero dizer com a sensação de exaustão com Silksong. É claro que isso não tira a grande qualidade que o game possui e é algo mais subjetivo, já que sei que muitos jogadores podem gostar daquilo que outros acham tedioso ou chato em vez de desafiador. Essa parte da análise serve mais para te dar a perspectiva de alguém que gostou do jogo, mas que também viu esses elementos mencionados como algo que tira parte de seu brilho. Isso é algo que nunca senti com o primeiro Hollow Knight, mesmo nas partes mais difíceis, como o White Palace ou o Path of Pain.

Vale a pena?

Dito tudo isso, será que Silksong vale a pena? A resposta curta é sim, disso eu não tenho qualquer dúvida. Esse é um jogo feito com muito capricho, qualidade e que pode agradar a praticamente qualquer fã de gêneros como Metroidvania e Soulslike. Fora dessa bolha, talvez seja um título mais difícil de recomendar do que seu antecessor, mesmo ele tendo melhorias em praticamente todos os elementos. Acredito que ele seja menos acessível, afinal exige melhores reflexos, mais habilidade com seções de plataforma e mais noção de como lidar com inimigos normais e chefes.

Mesmo para quem lida bem com isso, há aquelas situações que, conforme mencionei, podem se tornar mais exaustivas ou chatinhas. Então, esse acaba sendo um daqueles jogos que vai variar demais de pessoa para pessoa, sendo sempre melhor testá-lo por si próprio, algo relativamente fácil de fazer considerando o baixo preço do game e o fato dele estar disponível no Xbox Game Pass. Para mim, Silksong é exatamente como as rosas que encontramos em Cascomadeira: belíssimo, mas que com um movimento errado te leva direto a um mar de espinhos.

Nota do Voxel: 90

Pontos positivos (prós):

  • Mecânicas, visuais e efeitos sonoros estão melhores em todos os aspectos;
  • Hornet possui uma variedade de movimetação, habilidades e builds extremamente diversa;
  • O jogo te dá mais liberdade de como enfrentar os desafios propostos;
  • A linearidade no começo funciona melhor que a estrutura aberta de Hollow Knight;
  • Os objetivos são muito mais claros do que em seu antecessor;
  • NPCs são interessantes e divertidos de se acompanhar;
  • A dificuldade está bem dividida entre chefes, inimigos normais e o cenário;
  • Jogo totalmente localizado em português.

Pontos negativos (contras):

  • Alguns runbacks são desnecessariamente longos;
  • Falta uma sensação de progresso em respeito ao dano causado e tomado por Hornet mesmo após seus upgrades;
  • O dano de contato com inimigos é mais punitivo do que deveria;
  • Há muitos elementos repetitivos que tornam o jogo exaustivo do meio para o final;
  • Algumas seções de plataforma não possuem variedade na movimentação exigida e podem se tornar cansativas.

Hollow Knight Silksong já está disponível no PC, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series S/X, bem como no Nintendo Switch 1 e 2. E aí, qual a sua opinião sobre o game?

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