Review: Unbeatable tem personalidade forte, mas se perde no próprio ritmo

Como um entusiasta de jogos de ritmo, UNBEATABLE tem chamado minha atenção desde quando me deparei com sua versão preliminar, intitulada White Label, ainda em 2021. Era um título que saltava aos olhos com seus visuais dinâmicos e estilizados, além de contar com uma trilha sonora original de altíssima qualidade e personagens interessantes que por si só angariaram uma comunidade de fãs por anos a fio.

Foi um jogo que deixou uma primeira impressão muito forte, por mais que fosse evidente que alguns dos seus aspectos técnicos ainda deixavam a desejar. Parte de mim tinha muita expectativa pelo lançamento da versão completa, mas outra também tinha bastante receio. Afinal, estamos falando de um jogo ambicioso, que propõe um modo de aventura e exploração além do tradicional arcade, e que foi adiado às vésperas da sua data original de lançamento, dia 6 de novembro. Isso nunca é um bom sinal.

Agora que pude colocar as mãos na versão completa, encontrei um jogo bem-intencionado, instigante e cheio de personalidade, mas que confirma muito do meu temor: ele dá passos maiores do que a própria perna e entrega uma experiência confusa e desajeitada, com dificuldades de acompanhar o próprio ritmo. Veja as impressões completas a seguir, no review de UNBEATABLE.

História tem boa premissa, mas não segue as próprias regras estabelecidas

Dando um pouquinho de contexto, a história do jogo se passa em um mundo intrigante em que a música passou a causar o surgimento de criaturas sobrenaturais chamadas de Silêncio — que são as próprias notas musicais do gameplay de ritmo. Essa ameaça desconhecida, no entanto, criou o ambiente propício para a instalação de um regime fascista que proibiu toda e qualquer expressão musical, sob o discurso de “proteger os cidadãos”.

Os jogadores assumem controle de Beat, uma jovem rebelde que tem um passado misterioso e que rapidamente se envolve em problemas com os policiais, que tomaram controle de toda a cidade e estão prendendo pessoas indiscriminadamente, inclusive crianças. O jogo consegue plantar uma semente de curiosidade com a sua cena inicial que mostra um vislumbre do passado, momentos antes do surgimento do Silêncio, mas muitas das premissas básicas desse mundo não são seguidas e ele falha em dar as respostas que desejamos.

Um dos meus principais problemas com a história de UNBEATABLE é como as sequências narrativas são confusas, como se não houvesse coerência entre suas cenas. Tudo acontece muito rápido, não dando tempo para processar os acontecimentos e nem para a gente se apegar aos personagens. Isso é algo que também vale para a banda que Beat acaba formando: de repente está fazendo shows para multidões (algo que teoricamente é ilegal) e a gente não vê praticamente nada desse processo se desenrolando.

A Quaver, que é uma das personagens mais importantes da trama, é a que mais tem desenvolvimento, mas Clef e Treble, que se juntam à banda um pouco depois, são coadjuvantes totalmente esquecíveis. O jogo não dá espaço para que a gente conheça mais desses personagens, pois o roteiro parece um trem desenfreado. A qualidade da escrita também não ajuda, tendo em vista o seu tom constantemente sarcástico e passivo-agressivo que tira o foco de situações que, em tese, seriam mais sérias. Vale notar que tudo está em inglês, sem tradução para outros idiomas no momento.

No modo de história, estamos a maior parte do tempo explorando cenários e torcendo para esbarrar em pontos de interação, que não são muito legíveis. De vez em quando, encontramos alguns mini-games baseados em ritmo, como sabotar propaganda policial, atendimento de bartender e rebater bolas de baseball, mas nada muito profundo. 

Na versão antecipada de review, muitos desses mini-games estavam quebrados: um exemplo é um de sinuca em que era possível fazer tacadas com a bola ainda em movimento. Também havia um jogo de quebrar blocos, num computador antigo, em que a bolinha atravessava todos os blocos de uma só vez e, bem… saía da tela para sempre.

O propósito aqui é tentar conhecer o mundo do jogo e interagir com o máximo de NPCs possível. Mas aí temos outro problema: as caixas de diálogo. Em muitos momentos, as falas sobrepõem umas às outras, dificultando bastante o entendimento. Pesa o fato de que não há um registro dos textos do jogo, para que sejam revisados com facilidade. Também há bastante inconsistência na dublagem: em um momento, os personagens têm vozes; no outro, ainda na mesma conversa, eles de repente não têm mais.

O jogo recebeu pelo menos três atualizações ao longo de uma semana após o recebimento da chave de análise, mas esses problemas ainda persistiram. Na minha percepção, é muito claro que UNBEATABLE precisava de ainda mais tempo de desenvolvimento para que a execução pudesse fazer jus à visão criativa. Infelizmente, eu senti que o game é muito desajeitado e ainda precisa de polimento.

Dois jogos em um? De certa forma, sim

A maior graça dos jogos de ritmo está na harmonia entre visuais, trilha sonora e, claro, a satisfação em cada apertar de botão. UNBEATABLE consegue entregar isso, ainda que com GRANDES ressalvas, no seu Modo Arcade que busca replicar a experiência mais tradicional do gênero.

Aqui não tem segredo: temos uma seleção de músicas, muitas delas desbloqueáveis, e o objetivo é competir pela maior pontuação — seja a pessoal ou como parte do placar de líderes mundial. O gameplay também aposta em uma certa simplicidade. Apenas dois botões são necessários: um para notas que vêm da trilha de cima e outro, da de baixo. Por vezes, há notas que vêm pelo meio e também há barricadas que os jogadores devem evitar.

As partidas começam a ficar mais desafiadoras, no entanto, quando as notas começam a vir tanto da esquerda quanto da direita. É preciso prestar muita atenção e confiar nos seus reflexos para acertar as notas, principalmente em músicas que têm um índice de BPM (batida por minuto) mais alto. E é aqui que começam a aparecer os problemas de gameplay do jogo, que estão mais ligados a decisões de design.

Por padrão, UNBEATABLE tem muitos efeitos visuais, como aberrações cromáticas e tremores de tela, provocando uma poluição visual gigantesca. É tudo muito lindo e cheio de impacto à primeira vista, mas pouco prático. É muito difícil de enxergar o que está acontecendo na tela. Para piorar, há muitos efeitos de zoom e trocas de lado da tela que são desnorteantes. Eu tenho experiência com jogos de ritmo e fiquei bastante desconfortável com as configurações padrões. 

Por mais que seja possível atenuar a maior parte desses efeitos citados, isso resolve só parte do problema. É algo que está a nível de design e que precisaria de uma reformulação para não agredir tanto os olhos. E como consequência, com esses efeitos desligados, o jogo também acaba perdendo muito do seu “impacto visual”, causando um pouco de estranhamento. 

As músicas, felizmente, são muito boas. Elas cobrem uma variedade de estilos e têm até mesmo remixes de diferentes artistas. O fato de haver faixas desbloqueáveis também é um charme do jogo, incentivando a explorar o máximo da sua trilha. Também vale destacar músicas de convidados, incluindo algumas que vêm de Rift of the NecroDancer — que é o meu jogo de ritmo favorito do ano.

Uma vez que dominamos as mecânicas de gameplay, é bastante satisfatório de vencer as músicas mais desafiadoras. Mas o jogo traz alguns problemas: algumas vezes, o beatmap não parece condizer com o ritmo da música e também houve muitos momentos em que pressionar duas notas ao mesmo tempo não dava o feedback sonoro de que você acertou.

Visuais e desempenho

É inegável que UNBEATABLE é um jogo muito bonito. Seus personagens desenhados à mão e cenários tridimensionais são carregados de charme, e isso também vale para as suas cenas animadas do modo de história. Em tempos de inteligência artificial generativa, é de se apreciar quando um jogo está carregado de autenticidade com trabalhos tão autorais, feitos por uma equipe que é sem dúvidas muito apaixonada pelo que está criando. 

É triste que algumas decisões de design acabem afetando o jogo a nível de gameplay, deixando muitos dos seus elementos confusos e desnorteantes. Ainda assim, é de se reconhecer que o jogo traz uma identidade forte e diferente o bastante para se destacar.

A versão testada foi a de PC e tive alguns problemas com engasgos, especialmente em momentos que transitavam de uma cena animada para gameplay. Isso é algo que o Modo História adora fazer e que sempre nos pega de surpresa, não num bom sentido. Quando a interface do gameplay volta para a tela, acabamos tendo pouquíssimo tempo hábil para acertar a nota — e a travada quando isso acontece também não ajuda. 

Esse é mais um dos indícios de que a equipe da D-CELL GAMES precisava de mais tempo de desenvolvimento para passar um pente fino na experiência de usuário. A tendência é que o título passe por atualizações de qualidade de vida, mas essas inconsistências se fizeram muito presentes na versão antecipada de review e não tinham como ficar de fora desta resenha. Resta saber, no entanto, como o game deve rodar nos consoles PlayStation e Xbox.

Vale a pena?

UNBEATABLE é um jogo de ritmo ambicioso e conceitualmente interessante, mas que não é feliz em realizar sua visão criativa. A execução é desajeitada e deixa a desejar, denotando que o time precisava de mais tempo de desenvolvimento — especialmente para polir o seu Modo História. 

Ainda que tenha uma ótima trilha sonora e entregue belos visuais desenhados à mão, o gameplay traz muita poluição visual e pode ser desnorteante para muitas pessoas. Como jogo de ritmo, ele ainda consegue encontrar seu lugar e pode entreter, mas há outros títulos mais interessantes e bem-feitos, lançados em 2025, para serem explorados.

 

Nota do Voxel: 65

Pontos positivos (prós):

  • Visuais desenhados à mão;
  • Trilha sonora;
  • Duas experiências distintas: história e arcade;
  • Fácil de aprender, mas também desafiador.

Pontos negativos (contras):

  • Muita poluição visual na interface de gameplay;
  • História muito confusa e que não desenvolve bem seus personagens;
  • Tom sarcástico dos diálogos é irritante;
  • Exploração pouco recompensadora;
  • Problemas de performance e bugs na versão testada.

A chave de review de UNBEATABLE foi gentilmente fornecida pela assessoria de imprensa da Playstack e D-CELL GAMES. O jogo chega oficialmente em 9 de dezembro com versões para Steam, PlayStation 5, Xbox Series S e Xbox Series X.

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