O Japão vive uma crise demográfica sem precedentes, com quase 30% da população composta por pessoas com 65 anos ou mais. Esse cenário pressiona o sistema de saúde e assistência social, especialmente diante do aumento expressivo de idosos com demência.
Apenas em 2024, mais de 18 mil pessoas desapareceram após deixar suas casas; quase 500 foram encontradas mortas. Com os custos do cuidado previstos para chegar a 14 trilhões de ienes até 2030, o governo japonês aposta fortemente em tecnologia — incluindo robôs cuidadores — para aliviar a sobrecarga. As informações são da BBC News.
Tecnologia como aliada no cuidado e na prevenção
Entre as soluções mais difundidas estão dispositivos vestíveis equipados com GPS, usados para rastrear idosos que se perdem. Em algumas regiões, eles emitem alertas automáticos para autoridades e até para funcionários de lojas de conveniência, que ajudam a localizar rapidamente pessoas desaparecidas. A rede comunitária tem reduzido significativamente o tempo de resposta em casos de risco.
Ao mesmo tempo, ferramentas de inteligência artificial começam a ser usadas para identificação precoce da demência. Um exemplo é o aiGait, da Fujitsu, que analisa a postura e os movimentos ao caminhar e identifica sinais iniciais da doença, permitindo intervenções antecipadas e maior tempo de autonomia para os pacientes.

Robôs cuidadores: suporte físico, monitoramento e interação social
No campo dos robôs cuidadores, o Japão desenvolve tecnologias voltadas tanto ao apoio físico quanto emocional dos idosos. Entre os destaques estão:
- AIREC, robô humanoide de 150 kg que auxilia em tarefas como calçar meias, mexer alimentos e dobrar roupas;
- Sistemas instalados sob colchões para monitoramento noturno de sono e saúde;
- Robôs musicais e orientadores de alongamento usados em casas de repouso;
- Poketomo, um dispositivo portátil de 12 cm que lembra horários de medicamentos, informa sobre o clima e conversa com pessoas que vivem sozinhas, ajudando a reduzir o isolamento social.
Pesquisadores estimam que robôs humanoides totalmente preparados para interagir com segurança e precisão ainda devem levar pelo menos cinco anos para atingir nível ideal. Eles afirmam que a tecnologia precisa ser capaz de ajustar suas ações para cada pessoa e contexto, garantindo interação segura.
Apesar dos avanços, cientistas reforçam que robôs devem complementar — e não substituir — o toque humano. Para o professor Tamon Miyake, o papel principal das máquinas é auxiliar cuidadores e pacientes, ampliando a eficiência e o bem-estar sem eliminar o vínculo social.

Iniciativas sociais reforçam que tecnologia não substitui conexão humana
Além das inovações tecnológicas, intervenções comunitárias mostram que o engajamento humano permanece fundamental. Em Tóquio, o “Restaurant of Mistaken Orders”, fundado por Akiko Kanna, emprega pessoas com demência como atendentes. O projeto, inspirado na própria experiência da fundadora com o pai, ajuda funcionários a manter propósito e autonomia. Para clientes e familiares, o espaço evidencia que inclusão e convivência são parte essencial do cuidado.
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Toshio Morita, um dos atendentes, usa flores para lembrar pedidos das mesas e destaca que aprecia a interação com o público. Para a esposa, o café oferece alívio emocional e mantém Morita engajado, mostrando que, mesmo com tecnologia avançada, conexões reais continuam indispensáveis.
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