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Rochas revelam segredo do magnetismo da Terra guardado por meio bilhão de anos

by Fesouza
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Rochas vulcânicas formadas há cerca de 560 milhões de anos, no sul do Marrocos, revelam que o campo magnético da Terra não era tão instável quanto se acreditava. Em vez de variações aleatórias, ele seguia ciclos de enfraquecimento e reorganização, impulsionados por transformações no interior do planeta.

Por décadas, acreditou-se que as inversões dos polos magnéticos ocorressem de forma irregular e desordenada. Mas os minerais preservados nessas rochas – como magnetita e hematita – mostram que o magnetismo terrestre tinha um ritmo padrão, indicando uma dinâmica interna muito mais complexa do que se imaginava.

Em poucas palavras:

  • Estudo descobre que campo magnético da Terra apresentava um padrão rítmico, e não aleatório;
  • Rochas do Marrocos guardaram o registro dessas mudanças;
  • Os polos magnéticos mudavam de direção em intervalos de milhares, e não milhões, de anos;
  • O comportamento pode estar ligado à formação do núcleo sólido da Terra;
  • A descoberta ajuda a compreender a evolução magnética e tectônica do planeta.
Rochas revelam segredo do magnetismo da Terra guardado por meio bilhão de anos
O primeiro autor, James Pierce, sentado sobre as rochas com camadas bem definidas, que ajudaram a equipe a entender como as mudanças ocorreram. Crédito da imagem: Universidade de Yale

Rochas contam a história do magnetismo terrestre

Conduzido por cientistas da Universidade de Yale, nos EUA, e publicado na revista Science Advances, o estudo analisou minuciosamente a orientação magnética registrada em camadas de rochas do período Ediacarano, entre 630 e 541 milhões de anos atrás. 

Essa era geológica antecede a explosão de vida complexa no planeta e sempre intrigou os geólogos pela instabilidade do campo magnético. Em certos momentos, ele era até dez vezes mais fraco do que o atual – o que levantava dúvidas sobre como a Terra conseguiu manter sua atmosfera e o escudo protetor contra partículas solares.

As medições revelaram que as rápidas mudanças registradas nessas rochas ocorreram em um intervalo restrito, entre 568 e 562 milhões de anos atrás. 

Até então, acreditava-se que as inversões de polos e as variações magnéticas levavam milhões de anos para acontecer. O novo mapeamento mostrou que esses eventos ocorreram muito mais rápido – em questão de milhares de anos. 

Essa descoberta eliminou a hipótese de que continentes se moviam a velocidades extremas na época, indicando que as mudanças partiam do próprio interior do planeta.

Rochas revelam segredo do magnetismo da Terra guardado por meio bilhão de anos
Algumas das amostras de rocha utilizadas no estudo. Crédito da imagem: Universidade de Yale

Segundo o professor David Evans, líder da pesquisa, o segredo estava na forma como os dados eram interpretados. “Estudos anteriores presumiam que o campo magnético do passado se comportava como o atual. Mas quando analisamos as rochas camada por camada, percebemos que havia uma estrutura temporal ali dentro”, explicou em um comunicado. O uso de alta resolução estratigráfica e novas técnicas estatísticas permitiu detectar variações sutis que passavam despercebidas em análises tradicionais.

Os resultados apontam que, durante o Ediacarano, os polos magnéticos mudavam de direção repetidas vezes em intervalos muito curtos, antes de voltarem à posição original. Esse comportamento sugere que, durante aquele período, o campo magnético não se movia de forma estável ao redor do eixo terrestre, mas oscilava rapidamente, como se estivesse em busca de um equilíbrio.

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Descoberta redefine o entendimento sobre a evolução da Terra

A identificação desse padrão é um marco para a geofísica. Ela sugere que o núcleo externo da Terra – formado por ferro e níquel líquidos – estava passando por uma reorganização profunda. Essa transformação pode ter ocorrido quando o núcleo interno sólido começou a se formar, liberando calor e energia suficientes para alterar o comportamento do campo magnético. O resultado foi uma alternância entre períodos de fraqueza e força, até que o sistema se estabilizou.

Rochas revelam segredo do magnetismo da Terra guardado por meio bilhão de anos
Pesquisadores conseguiram modelar como os continentes poderiam ter sido durante o período Ediacarano. Crédito: Pierce et al.

Esse processo teria sido decisivo para o desenvolvimento do campo magnético moderno e, possivelmente, para a própria estabilidade da vida na Terra. Um campo mais forte e constante protegeu melhor o planeta da radiação solar, ajudando a preservar a atmosfera e as condições que permitiram o surgimento de organismos complexos.

Os pesquisadores acreditam que padrões semelhantes podem ter ocorrido em outras eras, como no Devoniano e no Jurássico Superior, em intervalos de cerca de 200 milhões de anos. As evidências apontam para a possibilidade de que o campo magnético da Terra siga um ciclo de longo prazo, em vez de um comportamento completamente aleatório.

Evans diz que compreender essas oscilações é essencial para reconstruir a história do planeta. “Se confirmarmos que esse padrão se repete, poderemos criar um modelo contínuo da tectônica de placas e do campo magnético que cubra bilhões de anos”. Essa visão unificada permitiria preencher lacunas entre os registros mais antigos e os períodos recentes, oferecendo um retrato mais completo da evolução terrestre.

A descoberta mostra que o magnetismo da Terra segue regras próprias – e que compreender essas regras é fundamental para entender o passado, o presente e o futuro do nosso planeta.

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