Home Variedade Rússia quer entrar no mercado de terras raras e desafiar domínio da China

Rússia quer entrar no mercado de terras raras e desafiar domínio da China

by Fesouza
7 minutes read

A Rússia quer entrar de vez na corrida global pelas terras raras – grupo de metais essenciais para a indústria de alta tecnologia e para a transição energética. O presidente Vladimir Putin ordenou que o governo finalize, até dezembro, um plano nacional para explorar esses minerais estratégicos. 

O movimento busca reduzir a dependência russa da China, que domina quase todo o mercado mundial. E garantir espaço numa das cadeias mais lucrativas do século 21.

A decisão vem num momento em que países disputam o controle das reservas e do refino desses elementos, usados em ímãs, semicondutores, baterias e turbinas eólicas

A China lidera com folga, os Estados Unidos tentam reagir e o Brasil surge como um dos principais detentores de reservas, mas que ainda engatinha na produção.

Rússia tenta romper domínio chinês e entrar na corrida das terras raras

O presidente da Rússia, Vladimir Putin ordenou que autoridades concluam até 1º de dezembro um plano de longo prazo para o desenvolvimento da extração e do refino de terras raras, segundo a CNBC

Vladimir Putin com o punho erguido próximo ao queixo
Putin ordenou que o governo da Rússia finalize, até dezembro, um plano nacional para explorar terras raras (Imagem: miss.cabul/Shutterstock)

Apesar do potencial, o país ainda é um participante tímido nesse mercado: responde por apenas 0,64% da produção global, de acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos.

Os números ajudam a explicar a pressa de Moscou. Enquanto a China concentra quase 70% da produção mundial, a Rússia ficou para trás em infraestrutura, tecnologia e parcerias internacionais. 

O governo russo tenta agora explorar suas jazidas e atrair investimentos estrangeiros, mas enfrenta barreiras impostas por sanções econômicas e pela guerra na Ucrânia, que limitam o acesso a mercados ocidentais.

Analistas ouvidos pela CNBC afirmam que o país vê nas terras raras uma oportunidade de reposicionar sua economia, hoje dependente do petróleo e do gás. 

Para o consultor Willis Thomas, do CRU Group, “os russos estão correndo por uma oportunidade, enquanto os americanos correm por necessidade”. 

O desafio, porém, é grande. Minerar é a parte fácil. O que dá vantagem à China é o domínio sobre as etapas mais complexas, como o refino e a separação química dos elementos.

China usa o controle das terras raras para pressionar os EUA

As terras raras voltaram ao centro da disputa entre China e Estados Unidos recentemente. Pequim anunciou novas restrições à exportação desses minerais, obrigando empresas a obter licenças especiais para vender o material ao exterior. 

Rússia quer entrar no mercado de terras raras e desafiar domínio da China
Terras raras voltaram ao centro da guerra dos chips travada por China e Estados Unidos (Imagem: Hsyn2/Shutterstock)

A medida, apresentada como forma de “proteger a segurança nacional”, é vista como uma resposta às sanções impostas por Washington contra a indústria chinesa de semicondutores. 

Com o controle da cadeia produtiva, o país asiático passou a ter uma vantagem estratégica em relação aos Estados Unidos, que dependem desses insumos para diversos setores. 

Segundo o cientista político Henry Farrell, da Universidade Johns Hopkins, a China “aprendeu a jogar o mesmo jogo dos EUA — e, em certos pontos, joga melhor”. 

Já o professor Yeling Tan, de Oxford, alerta que o bloqueio pode sair caro para Pequim, ao abalá-la como fornecedora confiável. Mesmo assim, a decisão reforça a mensagem de que as terras raras viraram instrumento de pressão econômica em meio à guerra dos chips.

Leia mais:

O que são terras raras e como o Brasil tenta se inserir nesse mercado

As terras raras são um grupo de 17 elementos químicos metálicos, composto pelos lantanídeos e pelos metais de transição escândio e ítrio

Apesar do nome, eles não são exatamente raros: ocorrem em diversas regiões do planeta, mas em baixas concentrações e com extração complexa, segundo o Brasil Escola

Minerais
Apesar do nome, as terras raras ocorrem em diversas regiões do planeta (Imagem: Rebel Red Runner/Shutterstock)

Por terem propriedades como alta condutividade, magnetismo e luminescência, são essenciais para produtos de tecnologia de ponta – de ímãs e semicondutores a baterias de carros elétricos, turbinas e equipamentos médicos.

O Brasil tem papel importante nesse cenário. Segundo o Serviço Geológico do Brasil, o país possui a segunda maior reserva mundial de terras raras, com 21 milhões de toneladas, atrás apenas da China. A maior parte está concentrada em Minas Gerais, Goiás, Amazonas, Bahia e Sergipe

Ainda assim, a produção nacional é mínima — apenas 20 toneladas em 2024, menos de 1% do total global. O principal entrave é tecnológico: o país ainda depende de técnicas e estruturas estrangeiras para o refino e a separação química dos elementos (situação parecida com a da Rússia, diga-se).

Nos últimos meses, porém, começaram a surgir sinais de mudança. Em Aparecida de Goiânia (GO), foi inaugurada a primeira fábrica brasileira voltada ao processamento de terras raras para ímãs, usados em motores elétricos e turbinas eólicas

A planta utiliza argila iônica extraída no interior do estado e alcança pureza superior a 95%, segundo a empresa responsável. O projeto é visto como passo inicial para inserir o Brasil num mercado estratégico, que combina transição energética (um dos eixos explorados na COP30, aliás), inovação industrial e soberania tecnológica.

O post Rússia quer entrar no mercado de terras raras e desafiar domínio da China apareceu primeiro em Olhar Digital.

You may also like

Leave a Comment