‘Santo Graal’ dos naufrágios: Colômbia resgata peças do lendário San José

O governo da Colômbia iniciou o processo de conservação das primeiras peças recuperadas do galeão San José, um navio da Armada espanhola que afundou no século 18 no Caribe — e guarda um tesouro repleto de joias e pedras preciosas avaliadas em bilhões de dólares na cotação atual, gerando uma disputa internacional.

Segundo reportagens da época, o navio foi afundado por uma frota de corsários ingleses no caminho para Cartagena das Índias, carregado com cerca de 11 milhões de moedas de oito escudos em ouro e prata. A embarcação naufragada foi descoberta em 2015 e até agora não há uma definição sobre a sua propriedade.

Peças de artilharia e itens do cotidiano são observados em missão subaquática no Caribe (Imagem: ARC-DIMAR/Reprodução)

Para retirar as peças do fundo do mar, equipes especializadas utilizaram robôs seguindo um plano validado por profissionais do Ministério da Cultura, Artes e Conhecimento; da Marinha Nacional, da Direção Geral da Marinha (DIMAR) e do Instituto Colombiano de Antropologia e História (ICANH). A lista final de objetos coletados durante a segunda fase do projeto de pesquisa “Em direção ao coração do Galeão de San José” inclui:

  • 3 macuquinas (moedas);
  • 2 xícaras de porcelana completas (1 com borda ortogonal e 1 com borda redonda);
  • 2 fragmentos de porcelana;
  • 1 canhão de bronze;
  • 1 fragmento de corda associado ao canhão.
  • Pequenos fragmentos de metal e madeira associados ao sedimento no canhão.

Após serem recuperados, os artefatos passaram por um procedimento de “primeiros socorros” a bordo do ARC Caribe. O canhão de bronze foi mantido úmido e armazenado em um contêiner refrigerado a 4 graus Celsius para evitar a exposição à luz solar e a altas temperaturas, prevenindo assim o ressecamento e a corrosão. As moedas de barro, os copos e os fragmentos de porcelana também foram mantidos em água do mar para evitar a deterioração.

O que acontece agora?

Atualmente, as peças estão sob responsabilidade do Laboratório de Patrimônio Cultural Subaquático do Centro de Pesquisas Oceanográficas e Hidrográficas do Caribe – CIOH (localizado em Cartagena) e o Museu Nacional da Colômbia (Bogotá). Para o canhão, os pesquisadores adaptaram um espaço no CIOH com uma piscina projetada para manter condições semelhantes às do ambiente marinho. 

De forma controlada e monitorada, os sais e cloretos serão removidos do interior de cada objeto, enquanto exames científicos serão realizados em parceria com laboratórios para determinar sua composição e os tipos de deterioração. Este trabalho permitirá que os tratamentos sejam adaptados às necessidades específicas de cada item, explica o governo.

Presidente da Colômbia, Gustavo Petro, esteve presente no trabalho de recuperação das peças (Imagem: Presidência da Colômbia)

“Este avanço no projeto de pesquisa representa o início de novas reflexões e aprendizados para a Colômbia e o mundo a respeito da gestão e administração do Patrimônio Cultural Subaquático, que contribui para, reconhece e identifica a importância dos povos por meio de uma história comum”, diz o comunicado.

Ao definir a composição metalográfica e metalúrgica dos elementos, será possível estudar também a origem específica de fabricação, cronologia, tecnologias de produção da época, rotas comerciais transoceânicas, a formação do sítio onde o naufrágio se encontra e explorar ainda mais a hipótese das causas do afundamento do galeão San José.

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O mundo em uma xícara

Um estudo histórico e arqueológico da embarcação apresentado em setembro concluiu que a coleção de xícaras de porcelana chinesa presente no naufrágio do galeão é a mais completa e melhor preservada do período Kangxi (1662-1722), conhecida até o momento no Caribe. Foi um momento marcado pelo aumento expressivo de exportação desses itens no comércio marítimo. A identificação foi feita com base na decoração e formato das xícaras.

“As xícaras de porcelana chinesas se somam à coleção de cargas da era Kangxi encontradas em todo o mundo, especificamente nos oceanos Índico e Pacífico. Este conjunto de itens, presente no naufrágio do San José, junta-se a outras quatro cargas significativas de naufrágios já relatadas em todo o mundo”, afirmou Daniela Vargas, membro da equipe de pesquisa histórica do projeto “Em Direção ao Coração do Galeão San José”.

Coleção de xícaras de porcelana chinesa presente no naufrágio do galeão é a mais completa e melhor preservada do período Kangxi (Imagem: Presidência da Colômbia)

Em 1708, quando o galeão San José afundou, as xícaras de porcelana fabricadas na China já haviam deixado de ser artigos de luxo para se tornarem itens do cotidiano, utilizados por pessoas em diferentes partes do mundo. Nas Américas, eram usadas para bebidas quentes, especialmente chocolate, um produto tradicional dos povos indígenas do continente. A chegada da porcelana chinesa também ampliou o repertório da produção americana, com novos formatos e decorações adaptados à cerâmica local. 

“Isso demonstra que a porcelana passou a ser usada em utensílios domésticos (louças) e permanece assim até hoje, mas também indica um padrão de consumo globalizado emergente na época”, explica Vargas. No início do século XVIII, navios franceses transitavam pelo Pacífico americano e estabeleciam uma rota comercial com Cantão, na China. Como resultado dessa rota, o mercado sul-americano foi inundado com produtos asiáticos, como essas xícaras. A existência dessa rota comercial explica a presença das xícaras no galeão San José.

(Esta matéria também usou informações da revista Galileu.)

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