Setembro é verde. Verde como renovação, como movimento, como compromisso. É o mês em que celebramos a luta das pessoas com deficiência por direitos, visibilidade e respeito. Mas também é um momento de pausa para refletir sobre o mundo que estamos construindo e sobre quem ele contempla.
A tecnologia, frequentemente associada ao avanço, carrega consigo uma responsabilidade silenciosa: a de não deixar ninguém para trás. E essa responsabilidade começa na forma como pensamos, projetamos e implementamos inovação.
É comum imaginar que a tecnologia beneficia a todos de forma igual. Mas quando soluções são desenvolvidas sem considerar a diversidade de corpos, mentes e formas de interação, elas acabam excluindo por padrão.
Interfaces que exigem movimentos específicos, comandos que pressupõem habilidades sensoriais intactas, sistemas que não reconhecem diferentes formas de comunicação tudo isso revela uma limitação de perspectiva.
Inovação com propósito: quando a inclusão é o ponto de partida
Felizmente, há iniciativas que mostram como a tecnologia pode ser uma aliada poderosa da inclusão. Projetos desenvolvidos ou apoiados pela Intel revelam que é possível criar soluções que respeitam a pluralidade humana e ampliam a autonomia de quem enfrenta barreiras no cotidiano.
O projeto I Will Always Be Me, que é uma parceria entre a Dell e a Intel, por exemplo, permite que pessoas com doenças neurodegenerativas como ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica) preservem sua voz antes que a fala se torne inacessível. Em apenas 30 minutos de leitura, elas registram não apenas sons, mas identidade. É tecnologia que reconhece a importância da expressão pessoal.
Outro exemplo é o MotionInput, software criado pela University College London com apoio da Intel, que transforma webcams comuns em interfaces acessíveis. Com ele, é possível interagir com o computador por meio de movimentos corporais sutis sem necessidade de dispositivos adicionais. É uma solução que respeita diferentes formas de mobilidade.
E há ainda o Assistive Context-Aware Toolkit, uma tecnologia open-source que permite que pessoas com mobilidade extremamente limitada se comuniquem com o computador.
Foi utilizada por Stephen Hawking. Hoje, está disponível para desenvolvedores que desejam criar ferramentas inclusivas. Esses projetos não são apenas funcionais. São éticos. São humanos.
Setembro Verde como provocação permanente
O Setembro Verde nos convida a ir além da data. Ele nos lembra que acessibilidade não é um diferencial, é um direito. E que toda inovação que não considera a pluralidade humana corre o risco de reforçar exclusões.
Trata-se de ampliar o olhar estratégico. De entender que cada linha de código, cada interface, cada produto carrega uma escolha. E que escolher incluir é, também, escolher transformar.
Para quem atua no setor de tecnologia, essa reflexão não pode ser distante. Ela precisa estar no centro. Somos nós engenheiros, designers, líderes, comunicadores, desenvolvedores que decidimos como o mundo digital será acessado, por quem e em que condições.
Cada decisão técnica é também uma decisão ética. E cada omissão, por menor que pareça, pode se tornar uma barreira intransponível para alguém. A inclusão não acontece por acaso. Ela é construída, intencionalmente, por quem tem o poder de criar.
A verdadeira revolução é coletiva
A tecnologia tem o potencial de ampliar possibilidades, de garantir autonomia, de fortalecer vínculos. Mas só cumpre esse papel quando é pensada com empatia. Quando reconhece que a diversidade humana é a regra, não a exceção.
Neste Setembro Verde, que a inovação seja mais do que avanço técnico. Que ela seja avanço social. Porque no fim das contas, a pergunta que importa é simples: a quem a tecnologia serve?