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Smartwatches e smart rings são desnecessários, a menos que você precise [Opinião]

by Fesouza
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Wearable” é um conceito que se refere a tecnologias vestíveis, que se integram às suas roupas e se tornam parte do seu estilo, mas agregando diferenciais “inteligentes”.

Hoje, os dois principais itens desse tipo são os smartwatches e os smart rings. Todo tipo de empresa de tecnologia está presente nesse segmento para atender a uma grande demanda dos consumidores: Apple, Samsung, Xiaomi, Huawei, Motorola, entre outras. Mas, e se eu te disser que esses dispositivos são desnecessários para a maioria da população, você acreditaria? É sobre isso que vamos falar.

A real utilidade

Geralmente, quem tem relógios inteligentes afirma que as principais utilidades são “registrar batimentos cardíacos, acompanhar o sono, contar o número de passos” ou similares. Estas são, de fato, informações bastante interessantes para se ter no dia a dia, permitindo um maior controle da sua saúde. Assim, você pode identificar se está tendo uma crise de ansiedade, saber se se movimentou muito durante a noite ou acompanhar o quanto está se exercitando ao longo do dia.

Em um estudo de 2019 intitulado “How useful is the smartwatch ECG?”, os autores concluíram que a incorporação desse recurso na vida cotidiana pode facilitar a promoção da saúde e os esforços preventivos, incentivando os consumidores a assumirem uma posição ativa em relação ao seu bem-estar.

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O fácil acesso a esses dados pode despertar o interesse em melhorar a saúde, incentivando a diminuir o consumo de energéticos, a ter mais atenção com a higiene do sono e a buscar uma vida mais ativa. Isso também serve de incentivo para continuar ou começar uma atividade física e/ou esportiva. Exercícios cardiovasculares, como corrida e pedalada, por exemplo, se beneficiam muito do acesso a esse tipo de informação em tempo real.

Os desafios e a imprecisão dos dados

No entanto, ter esse acesso constante também pode gerar problemas para algumas pessoas. Ao se sentir mal, o usuário olha para o relógio, vê que o batimento cardíaco está um pouco mais alto que o normal, e isso pode desencadear uma crise de ansiedade simplesmente pelo receio de estar tendo uma.

Mas, afinal de contas, esses dados são precisos? Essa é uma das principais dúvidas dos usuários. Se você compra um dispositivo para monitorar sua saúde, você precisa da certeza de que os dados estão corretos ou, pelo menos, os mais próximos possíveis da realidade. Contudo, a realidade não é bem essa.

O mesmo estudo citado anteriormente afirma que existem desafios significativos no assunto, como a falta de dados sobre desfechos clínicos, os falsos positivos e as preocupações com a privacidade dos dados. E nem é preciso ir muito longe para atestar isso. O famoso YouTuber Marques Brownlee já fez pelo menos dois testes de contagem de passos com diversos wearables, e os resultados variaram bastante entre os modelos.

Outro estudo, de Stanford, concluiu que os dados de batimentos cardíacos são confiáveis, apresentando uma margem de erro de apenas 5%. Porém, nenhum dos dispositivos testados conseguiu estimar os gastos energéticos corretamente para qualquer tipo de atividade, seja ela intensa ou não. Embora o estudo tenha sido publicado em 2017, uma revisão sistemática de 2022 apresentou resultados similares.

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Há também situações específicas que levam a dados incorretos. O fato de o usuário ter tatuagens na área do sensor ou possuir um tom de pele mais escuro pode atrapalhar a coleta de informações. Há também casos curiosos, como um estudo saudita de 2023 que concluiu que as medições de saturação do sangue em crianças eram imprecisas por causa do tamanho de seus pulsos.

Privacidade e pilantragem no marketing

Sendo assim, esses dispositivos não são extremamente confiáveis… e o problema pode piorar. Em entrevista ao podcast Waveform, o médico e influencer Doctor Mike afirmou que o problema atual está relacionado à privacidade e ao uso dos dados coletados. Não há uma orientação clara sobre o que as empresas devem fazer e como.

E, muitas vezes, há até uma certa “pilantragem”, se assim posso dizer. As empresas lançam novas funcionalidades sem trazer uma comprovação científica da eficácia, já que o processo custa caro e é demorado (além de poder apresentar resultados que comprovem a ineficácia). Mesmo assim, elas investem em diversas campanhas de marketing, divulgando que o dispositivo salvou muitas vidas e que esse novo recurso é essencial.

O potencial no meio acadêmico

Felizmente, o meio acadêmico está se aproveitando desses dispositivos para o bem, e tratamentos estão sendo desenvolvidos com o uso deles.

Um artigo publicado em 2015 apresentou uma análise preliminar com resultados promissores para o uso de um smartwatch em terapias da fala para pessoas com Parkinson. Outro, de 2019, mostrou uma resposta positiva na coleta de dados de pacientes idosos com dores crônicas, incluindo artrose, devido à portabilidade, facilidade de acesso e preço consideravelmente menor que o dos smartphones. Há também estudos sobre o desenvolvimento de um algoritmo para detecção automatizada de fibrilação atrial, uma arritmia cardíaca grave.

Então, você realmente precisa?

Eu não vim aqui dizer que esses dispositivos são inúteis, mas que é bem provável que você não precise deles tanto quanto pensa. Tudo dependerá do quanto você está disposto a mudar de vida e encarar esse relógio ou anel inteligente como um incentivo.

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Claro, você também pode comprá-lo por um motivo que não tem nada a ver com saúde, mas sim estético. São aparelhos bonitos, que se integram bem ao visual e dão aquele toque tecnológico no traje. É uma opção válida, mas é preciso concordar que é desnecessário. Às vezes, vale mais a pena investir em um Casio ou Naviforce da vida do que em um ultra high-tech cujas funcionalidades você nem vai usar.

Você pode me chamar de hipócrita porque, mesmo falando tudo isso, estou sempre com um smartwatch no pulso. O motivo é que meu celular parou de vibrar há algum tempo. Junte isso ao fato de ele sempre estar no silencioso e pronto: eu ficava incomunicável por horas. Essa acabou sendo a forma mais barata de resolver o problema na época.

No fim das contas, o que quero dizer é que, para a maioria das pessoas, um smartwatch é desnecessário. Os dados são imprecisos e a privacidade é comprometida. Ele se torna, na prática, um item estético e tecnológico com algumas funções diferentes e legais, mas nada pelo qual você deveria mover mundos e fundos para adquirir, a menos que isso te ajude a levar uma vida mais ativa e saudável. Ou caso seu celular pare de vibrar.

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