Imagine que você está assistindo a uma novela em casa, pela televisão. De repente, você olha para a jaqueta de uma atriz e pensa: “Achei ela bonita. Onde será que é vendida?”. Enquanto pensava nisso, você acabou não prestando atenção em um diálogo e tenta voltar para ouvir novamente o que foi dito. Quer assistir mais tarde? Isso também será possível, já que esse conteúdo poderá ser salvo para ser assistido depois na TV.
Essas são algumas das possibilidades que a TV 3.0 implementará em breve aqui no Brasil. Sem depender exclusivamente da internet, a televisão se transformará em um streaming turbinado, onde até compras online poderão ser feitas, tudo isso na palma da sua mão. Mas como funciona essa tecnologia, quando ela chega e por que é chamada de 3.0? É isso que o TecMundo vai explicar para você!
Os primeiros passos
No final de agosto de 2025, o presidente Lula assinou o Decreto nº 12.595/2025, regulamentando a TV 3.0 no Brasil. Representantes dos principais canais de televisão brasileira, incluindo Globo, SBT, Record, Band e RedeTV!, estiveram presentes na cerimônia, que marcou o início de uma nova era para os canais abertos. Mas, afinal, o que ela tem de tão importante?
Embora a TV 3.0 (também conhecida como DTV+) seja uma novidade no Brasil, a tecnologia do novo padrão de sinal aberto vem sendo implementada em outros países há alguns anos, sendo o Brasil o primeiro da América do Sul a adotá-la e o quarto no mundo a contar com esse sinal, um feito histórico. A história do ATSC 3.0, nome técnico da nova transmissão digital, começou por volta de 2013, quando o ATSC (Comitê de Sistemas Avançados de Televisão) anunciou que, com a evolução da internet, os sistemas de televisão também precisariam evoluir, já que a era digital estava se consolidando em todo o mundo.
Na época, o presidente do ATSC resumiu bem a situação: a internet já estava presente em tudo, e a televisão não podia ficar para trás. Nos dois anos seguintes, os primeiros testes do ATSC 3.0 foram realizados em alguns canais americanos. No entanto, foi em 2017 que o novo sinal, então chamado de NextGen TV, foi implementado, inicialmente na Coreia do Sul, a tempo das Olimpíadas de Inverno de 2018. Desde então, países como Estados Unidos, Trinidad e Tobago e Jamaica também adotaram o padrão, enquanto Índia, México e Canadá se preparam para a chegada do novo sinal.
Em 2021, o Ministério das Comunicações do Brasil começou a estudar a implementação da transmissão no país, com os primeiros testes realizados em 2022. Com base nesse padrão, o Fórum do Sistema Brasileiro de Televisão Digital anunciou oficialmente, em 2024, a chegada da TV 3.0 ao Brasil. Aliás, por que esse nome “3.0”?
1.0, 1.5 e 2.0
A primeira fase da televisão, chamada de TV 1.0, começou com as transmissões analógicas, e o Brasil recebeu seu primeiro sinal em 1950, com a estreia da TV Tupi. Nessa época, todas as transmissões eram ao vivo, sem programas gravados, e em preto e branco. Com a chegada das cores, surgiu a era 1.5 da televisão, que, além da transmissão de programas gravados, passou a contar com som estéreo, em vez do padrão mono das primeiras transmissões.
A transição do sinal analógico para o digital marcou a mudança necessária para justificar a nova fase da televisão, inaugurando a era da TV 2.0. Adotado a partir do padrão digital japonês, o Brasil estreou o sinal digital em 2007, substituindo gradualmente o sinal analógico, que foi completamente descontinuado apenas em junho de 2025, setenta e cinco anos após a primeira transmissão. Agora, dezoito anos depois do primeiro sinal digital, chega a TV 3.0.
O que a TV 3.0 trará de novo?
Mas vamos lá, o que essa nova fase vai trazer de novo pros telespectadores? Ninguém vê TV mais, por que devo dar atenção a isso? Assim como na era da TV digital, teremos melhora na imagem, já que o sinal terá suporte a tecnologias HDR para cores e contraste mais vivos. Além disso, o sistema terá transmissão de vídeo em 4K com possibilidade de 8K caso o seu aparelho seja compatível. A promessa de um áudio mais imersivo e com maior qualidade também é um dos destaques, além de maior opção de sinal. Num jogo de futebol, por exemplo: você poderá escolher entre ouvir a narração da emissora ou só ouvir o grito da torcida. Legendas, audiodescrição e libras também terão mais destaque aqui.
A experiência de troca de canais será bastante semelhante para quem já utiliza uma Smart TV ou TV a cabo. Agora, cada canal poderá ser selecionado por meio de um hub, semelhante a um aplicativo, eliminando os canais numéricos tradicionais. Cada emissora poderá oferecer interações ao vivo de acordo com a programação do dia. Por exemplo, em um dia de votação do BBB na Globo ou da Fazenda na Record, será possível votar diretamente pela TV, sem precisar usar o celular. Viu uma roupa que um ator ou atriz está usando? Se a emissora optar por isso, poderá exibir um link para compra do produto diretamente na tela. Perdeu metade da novela? Você poderá voltar ao início ou até mesmo a uma cena específica em poucos segundos.
“Mas será preciso ter internet para aproveitar tudo isso?”. Sim e não. A TV 3.0 integrará dois serviços: o broadband, que depende da conexão com a internet, e o broadcast, que é a transmissão convencional de sons e imagens. Para uma experiência mais completa, com interações ao vivo, compras e outros recursos, será necessário estar conectado à internet. Caso não haja acesso à internet, a TV ainda funcionará, mas apenas com as melhorias de imagem e som.
Será necessário trocar de TV? A princípio, não, pois será preciso apenas um conversor para utilizar o sinal da TV 3.0, semelhante ao que ocorreu na transição para a TV digital. É muito provável que as futuras TVs já venham com o conversor embutido, mas isso deve se tornar comum apenas em cerca de cinco anos. Ainda não há previsão de preços para esses conversores, mas mais detalhes devem ser divulgados no início do próximo ano, já que a expectativa é que os primeiros aparelhos estejam prontos para a Copa do Mundo de 2026.
Boa, mas não é perfeita
Embora a TV 3.0 represente uma revolução, há alguns pontos que merecem atenção. Se você usa redes sociais, sabe bem como somos bombardeados por publicidade. Na DTV+, isso não será diferente, já que o sistema poderá aprender o perfil de cada usuário, personalizando conteúdos e anúncios. Isso levanta preocupações com a coleta de dados, incluindo o risco de uso excessivo ou inadequado das informações pessoais. Em outras palavras, teremos mais um espaço para publicidade direcionada.
Além disso, é provável que o consumo de dados de internet e energia aumente, já que o streaming híbrido e os recursos de segunda tela demandarão maior largura de banda e, consequentemente, mais energia. Como a experiência completa da TV 3.0 depende de conexão à internet, é possível que os custos dos planos de internet aumentem no futuro.
Outro desafio é o acesso à internet: segundo dados do IBGE de 2024, cerca de 22 milhões de lares brasileiros ainda não possuem conexão em casa, o que é preocupante em um mundo tão globalizado. Seria interessante se o governo criasse programas para ampliar o acesso à internet, seja via satélite ou rádio, mas esse é um assunto para outra discussão.
O governo estima que o processo de transição para a TV 3.0 levará pelo menos 15 anos para ser concluído, o que indica um longo caminho pela frente. Com tudo isso, é evidente que a televisão, que vinha perdendo espaço na competição entre telas, pode ganhar uma sobrevida e, quem sabe, continuar relevante por mais cem ou até duzentos anos. O que o futuro nos reserva? Só o tempo dirá.
E aí, estão ansiosos por essa mudança? Você ainda assiste televisão em casa? Queremos saber sua opinião e quais temas você gostaria de ver no TecMundo. Comente nas nossas redes sociais!