Home Variedade Tecnologia na estrada: como a IA está redesenhando o transporte de frotas

Tecnologia na estrada: como a IA está redesenhando o transporte de frotas

by Fesouza
4 minutes read

A logística de transportes no Brasil vive uma revolução silenciosa, mas poderosa. Se antes o controle da frota era feito com papel, caneta e tacógrafo, hoje a telemática, a inteligência artificial e a videotelemática já fazem parte da rotina de grandes empresas que desejam mais eficiência, segurança e sustentabilidade no transporte de mercadorias.

Destrinchamos o assunto na edição dessa semana do The BRIEFCast, o podcast do The BRIEF. Eduardo Canicoba, vice-presidente da Geotab Brasil – empresa canadense que opera em mais de 5 milhões de veículos no mundo, nos contou sobre a evolução da tecnologia no transporte e dos benefícios de uma gestão de frota orientada por dados.

Para entender o salto tecnológico, vale lembrar de onde viemos. O tacógrafo, aquele disco de papel que registrava velocidade e horários em ônibus e caminhões, era o principal recurso de monitoramento até pouco tempo atrás. Com ele, gestores podiam comprovar excessos de velocidade ou rastrear comportamentos inadequados dos motoristas — mas só isso. Era uma ferramenta passiva e limitada.

Hoje, a realidade é outra.

A telemetria virou telemática, o que nos deu um salto qualitativo. Se antes o dado era o “ponto A ao ponto B”, agora falamos de dados ricos: uso de cinto de segurança, frenagens bruscas, consumo de combustível, estado dos pneus, acionamento de limpadores de para-brisa (indicando chuva em determinada região), comportamento do motorista, e até o tempo ocioso do veículo com motor ligado.

Segundo Canicoba, a Geotab coleta cerca de 75 bilhões de pontos de dados por dia no mundo. No Brasil, apesar dos desafios de infraestrutura e conectividade, os dados são armazenados nos veículos em caso de perda de sinal e transmitidos assim que há reconexão. Até 85 mil registros podem ser salvos localmente (ou cerca de 1 mês do veículo sem conexão com a base).

Para que serve tudo isso?

A resposta curta: para salvar vidas, reduzir custos e mitigar impactos ambientais. Já a resposta longa inclui alguns pontos:

  • Redução de acidentes: com câmeras que detectam sonolência, uso de celular ou distrações, além de sistemas de alerta e reconstrução de colisões;
  • Economia de combustível: monitorando ociosidade, rotas otimizadas e estilos de condução;
  • Manutenção preditiva: prevenindo quebras por meio da leitura dos sensores de motor, freio e bateria;
  • Sustentabilidade: empresas com metas de emissão zero podem medir, comparar e reduzir seu impacto ambiental.

Cultura de dados: o maior desafio

Apesar das ferramentas estarem disponíveis, a principal barreira ainda é cultural. Muitos gestores e executivos ainda se prendem a uma visão limitada da gestão de frotas, restrita a localização e entrega de carga. Mas como Eduardo frisou, o papel dos dados é justamente guiar o empresário e entender as dores de cada realidade. E aí, apresentar indicadores personalizados, com dashboards e relatórios específicos para tomadas de decisão mais inteligentes.

“Qual é o seu maior desafio? Reduzir acidentes? Controlar combustível? Evitar ociosidade? É possível moldar os dados de acordo com o que importa para você”, afirma Canicoba.

Exemplos que inspiram

Clientes como Mercado Livre e PepsiCo já utilizam essa tecnologia em seus veículos na América Latina, mostrando como o ROI (Retorno sobre o Investimento) pode ser alcançado com dados bem usados. A cada segundo de economia no tempo de entrega, a cada litro de diesel poupado, a cada colisão evitada, o investimento se paga — e muitas vezes com folga.

Além disso, o setor começa a se movimentar rumo à eletrificação. Com a média da frota brasileira girando em torno de 12,2 anos (e chegando a 16 anos no caso de caminhoneiros autônomos), segundo a ANFIR e a CNT, há um imenso potencial de modernização. Medir autonomia da bateria, tempo de recarga e consumo elétrico por veículo são novas demandas da gestão de frotas.

O Brasil como um laboratório

Com dimensões continentais e mais de 1,2 milhão de quilômetros de rodovias, o Brasil apresenta desafios únicos. E é justamente por isso que se torna um laboratório interessante para o uso de soluções robustas de tecnologia no transporte.

E, como mostrou a conversa com o Eduardo, o futuro já começou. Empresas que se anteciparem, dominarem a leitura de dados e adaptarem suas estratégias à nova realidade sairão na frente. O que antes era anotado à caneta e papel hoje é armazenado em nuvem, interpretado por inteligência artificial e traduzido em decisões que salvam tempo, dinheiro e vidas.

You may also like

Leave a Comment