Cientistas analisaram um meteorito vindo de Marte, que está há mais de 90 anos em posse da Universidade Purdue, no estado norte-americano de Indiana, e descobriram nele um composto químico estranho que pode ajudar a desvendar sua história.
De acordo com um estudo publicado este mês na revista Astrobiology, trata-se de uma toxina capaz de provocar vômito em porcos e seres humanos, e que pode elucidar as circunstâncias sobre as quais a rocha veio parar na Terra.
Topo e fundo do meteorito Lafayette, que veio de Marte. Créditos: Museu Field de História Natural de Chicago – Domínio Público
Batizado de Lafayette, em referência à região onde se acredita que ele tenha sido encontrado, o meteorito foi expelido da superfície marciana milhões de anos atrás e, em 1931, chegou à instituição – mas, quem a entregou, ainda permanece um mistério.
Uma teoria relatada pelo colecionador de meteoritos Harvey Ninninger, em 1935, diz que um estudante preto de Purdue testemunhou a queda do meteorito em um lago enquanto estava pescando, recuperou a rocha, e doou para a universidade.
No entanto, poucas evidências sustentavam essa versão. Então, em 2019, uma equipe de pesquisadores liderada por Áine O’Brien, cientista planetária da Universidade de Glasgow, na Escócia, começou a investigar esse mistério.
De Marte para lavoura de grãos no interior dos EUA
“Lafayette é uma amostra de meteorito verdadeiramente bonita, que nos ensinou muito sobre Marte através de pesquisas anteriores”, disse O’Brien em um comunicado. “Parte do que o tornou tão valioso é que ele é notavelmente bem preservado, o que significa que deve ter sido recuperado rapidamente depois que pousou”.
Ela ressaltou que quando os meteoritos se despedaçam por períodos significativos de tempo, suas camadas externas se afastam e coletam contaminantes terrestres, reduzindo seu valor de pesquisa.
“A combinação incomum da rápida proteção de Lafayette contra os elementos e o pequeno traço de contaminação que ele captou durante seu breve tempo na lama foi o que tornou esse trabalho possível”, disse a pesquisadora.
A equipe começou suas investigações pulverizando uma pequena amostra do meteorito e examinando-o com um espectrômetro, para buscar as “impressões digitais” de sua composição química.
Entre milhares de compostos, eles encontraram o deoxinivalenol (DON), uma toxina existente em um fungo que cresce em culturas como milho, trigo e aveia. Quando ingerida, ela causa ânsia de vômito em humanos e animais, especialmente porcos.
O’Brien mencionou a detecção de DON a um colega familiarizado com a história da descoberta de Lafayette, que observou que a toxina poderia ter chegado ao meteorito por meio da poeira de lavouras que encontraram seu caminho em cursos d’água em torno de onde a rocha caiu.
Então, eles entraram em contato com pesquisadores dos departamentos de agronomia e botânica de Purdue, que começaram a investigar o quão prevalente era na região o fungo munido de DON antes de 1931, quando as origens do meteorito foram determinadas.
A apuração revelou que o fungo era mais predominante em 1919, quando causou uma queda de 10% a 15% na produção agrícola, com menor índice em 1929. Embora o fungo fosse mais prevalente, havia uma maior probabilidade de que ele fosse transportado para além das terras agrícolas, carregando a toxina junto.
Segundo o site Space.com, os pesquisadores também consultaram relatos de meteoros na região – as trilhas de luz causadas quando meteoritos se incineram ao passar pela atmosfera terrestre.
Dois avistamentos particulares de meteoros se destacaram, tendo passado tanto sobre o sul de Michigan quanto o norte de Indiana: um em 26 de novembro de 1919 e outro em 1927.
Um desses quatro estudantes pretos de Purdue pode ter recuperado o meteorito Lafayette. Acima: Hermanze Edwin Fauntleroy e Clinton Edward Shaw. Abaixo: Clyde Silance e Julius Lee. Créditos: Universidade Purdue
Com essas datas em mãos, arquivistas de Purdue começaram a pesquisar os registros de estudantes pretos presentes na universidade nessa época. Foram identificados: Julius Lee Morgan e Clinton Edward Shaw, da turma de 1921, Hermanze Edwin Fauntleroy, de 1922, e Clyde Silance, de 1927.
A equipe concluiu que, com base no relato de Ninninger sobre a chegada do meteorito Lafayette na universidade, um desses quatro estudantes provavelmente doou a rocha marciana para a instituição.
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Agora, os cientistas esperam que pesquisas adicionais possam identificar qual dos quatro encontrou o meteorito, para que ele possa, finalmente, receber o merecido crédito.
“Estou orgulhosa de que, quase um século depois, finalmente possamos reconstruir as circunstâncias do pouso de Lafayette e chegar mais perto do que jamais fomos de dar crédito ao estudante preto que a encontrou”, disse O’Brien.
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