Quando pensamos na morte, estamos na verdade criando um fluxo temporal de nosso processo de amadurecimento e velhice, mas como é natural, definimos um ponto de corte imaginando partir da vida sem termos passado por doenças severas; queremos ter nossa independência, competências físicas, intelectuais e emocionais íntegras até o fim.
Nossa expectativa de vida cresce a cada ano, nós seres humanos já tivemos expectativas inferiores a 30 anos e cientistas podem afirmar que nascem hoje indivíduos que terão expectativas de vida superiores a 115 anos. E qual é o limite? Poderíamos envelhecer saudáveis em todos os aspectos até quanto? Podemos transcender nossa “humanidade” em busca de mais tempo de vida?
O termo Transhumanismo é um movimento que aglutina todas as ações e concepções práticas, teóricas e inclusive de ficção sobre como estamos transcendendo nossa condição humana. Atinge de forma transversal megatendências de Gerações, Inovação, Globalização e Sustentabilidade, com fases práticas já em curso e com muitas outras em acelerada evolução. Há escritores que julgam sermos a última geração de Homo Sapiens, seríamos então qual tipo definido de humanos? Homo tech? Homo deus? Definiremos nossa própria eternidade?
Tecnologia é uma ferramenta, a pedra afiada pode ter sido a primeira evolução tecnológica a favor do homem, e assim continuamos evoluindo e desenvolvendo tecnologias capazes de recompor nossa condição natural, como uma perna robótica após um acidente ou uma lente ocular implantável quando chega a catarata, ou ainda mais, imprimindo em 3D órgãos com nosso próprio plasma, com nosso DNA, evitando qualquer rejeição. Poderíamos transitar na área da ficção imaginando transferência de memória para um servidor central ou até para um novo corpo sintético ou ainda de um computador para nosso próprio cérebro (memórias ainda não, porém, sombras para traumas já são implantadas), mas vamos ficar no campo da atualidade, onde muito já está construído em se tratando de Transhumanismo em busca de prolongar a vida.
Entenda o transhumanismo
Reconfigurar o código genético através de uma metodologia conhecida como CRISPR* pode reprogramar o genoma de modo a retirar lesões ou imperfeições a nível molecular e reinserir um sequenciamento saudável ou com nova programação. A edição genética já vem sendo utilizada em grande escala na agricultura, controle de pragas e inclusive em humanos, com medicamentos para cegueira ou atrofia muscular espinhal , ambos em fase comercial e com muitos outros em análises que tratam especificamente de reprogramação para desaceleração da Senescência*. Mas se podemos imputar um sequenciamento molecular saudável não poderíamos inserir um “pedaço” de nosso genoma melhor ao original? Com mais longevidade genética, com mais inteligência, com edição de etnia, sexo ou preferencias estéticas? – Podemos! Mas devemos?
Já somos em boa parte Transhumanos, possuímos órgãos artificiais e membros implantados entre outras inúmeras próteses, nos auxiliamos com órteses no dia a dia, enfim é um tema que trata muito mais do que saúde e longevidade, mistura política, realidades sócio econômicas, ética e religião. Existem grandes desafios que contrapõem o exponencial avanço tecnológico versus a possibilidade de acesso destas tecnologias a todas as classes sociais, impacto nos sistemas de saúde suplementares e governamentais visto que estamos aumentando a média da faixa etária em auxilio de saúde e previdência (de maneira global, independente do sistema), Biohackers* que podem usar indevidamente as tecnologias de melhoria da condição humana para fins indesejáveis e os desafios éticos que colidem entre a possibilidade de curar doenças genéticas de nossos filhos e o limítrofe de transformá-los em super-humanos.
Envelhecemos, mas não necessariamente precisamos ter nossa idade cronológica como marcador, e sim nossa idade biológica, que deve ser nosso melhor indicador (cientistas já possuem tecnologia a nível molecular para esta medida com precisão). Fatores genéticos correspondem a no máximo 30% das causas de nossas falências, o resto são nossas escolhas, comecemos cuidando do nosso maior órgão que é a pele, já estaremos retardando boa parte de nossa senescência natural.
Por Fabio Hilal*
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