Desde que foi descoberto, em 1º de julho, o cometa 3I/ATLAS está na mira de diversos telescópios espaciais e terrestres. As observações são analisadas por cientistas do mundo todo, empenhados em desvendar todos os segredos desse objeto, que é apenas o terceiro visitante interestelar já detectado no Sistema Solar.
Conforme noticiado pelo Olhar Digital, uma missão da NASA chamada SPHEREx (sigla em inglês para “Espectrofotômetro para a História do Universo, Época da Reionização e Explorador de Gelos”) recentemente descobriu que ele tem uma abundante “cabeleira” de dióxido de carbono de quase 350 mil km de extensão – uma nuvem de poeira e gás conhecida como coma que envolve o núcleo de água congelada.
O astrônomo Carey Lisse, da Universidade Johns Hopkins, nos EUA, membro da equipe científica do SPHEREx, disse ao site Space.com que a composição do 3I/ATLAS não é tão distinta das encontradas nos cometas de dentro do Sistema Solar – que, assim como ele, contêm poeira, água, dióxido de carbono (CO2) e monóxido de carbono (CO).

“Sua composição é diferente da maioria dos cometas do Sistema Solar apenas no que diz respeito à concentração de CO2”, explica Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia (APA), membro da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (BRAMON) e colunista do Olhar Digital. “De resto, é idêntico. Tem os mesmos gases, poeira, água… Se não fosse interestelar, não teria nenhuma atenção especial dos cientistas”.
Os dados do SPHEREx mostram uma coma rica em dióxido de carbono, quase sem monóxido de carbono, e um núcleo de água congelada no 3I/ATLAS. Isso sugere que esse cometa já teria passado por intenso aquecimento em seu sistema original antes de ser lançado para o espaço interestelar. Ou seja, embora se pareça com os cometas que conhecemos no Sistema Solar, ele tem uma história de vida mais longa e intensa.
Eclipse lunar favorece observação da “cabeleira” do visitante interestelar
Michael Jaeger, astrônomo amador e descobridor de cometas austríaco, aproveitou o eclipse lunar total deste domingo (7) para capturar uma imagem profunda do cometa 3I/ATLAS no céu escuro da Namíbia.

“As imagens em azul de 14×120, verde de 4×120 e vermelha de 4×120 mostram uma cabeleira rica em gás de 2′ [dois minutos de arco] pela primeira vez”, descreve o astrofotógrafo na legenda das imagens enviadas à galeria da plataforma Spaceweahter.com.
Isso significa que diferentes filtros ou comprimentos de onda foram usados durante a captura. Em astronomia, é comum combinar imagens em azul, verde e vermelho para criar uma composição colorida. Neste caso, foram 14 exposições de 120 segundos cada no filtro azul, quatro exposições de 120 segundos cada no verde e também quatro exposições de 120 segundos cada no vermelho.
Minutos de arco é uma unidade de medida angular usada em astronomia para indicar o tamanho aparente de algo – ou seja, quanto espaço o objeto ocupa no céu, medido como um ângulo a partir do ponto de observação.
- Um círculo completo tem 360 graus (°);
- Cada grau é subdividido em 60 minutos de arco (‘);
- Cada minuto de arco se subdivide em 60 segundos de arco (“).
O diâmetro aparente da Lua cheia é cerca de 30′, ou meio grau. Um objeto de 2′ (como o cometa 3I/ATLAS na captura de Jaeger) é 1/15 do tamanho aparente da Lua cheia no céu. Portanto, embora seja visível em imagens telescópicas, ele é relativamente pequeno e difuso para o olho humano.

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Cometa 3I/ATLAS vai desaparecer aos olhos da Terra
Os cientistas acreditam que o “forasteiro” vem de muito longe, possivelmente do disco espesso da Via Láctea, a região mais antiga da galáxia, e que sua idade pode ser duas vezes maior que a do Sistema Solar, que é de cerca de 4,5 bilhões de anos. Esse detalhe aumenta ainda mais o valor científico de estudar sua composição e comportamento.
Estima-se que ele vai chegar ao ponto mais próximo do Sol (periélio) em 29 de outubro. Nos dias anteriores, deixará de ser visto da Terra, que estará do lado oposto da nossa estrela-mãe.
Em novembro, o objeto reaparece atrás do Sol, voltando a ser observável do nosso planeta, de quem atinge a proximidade máxima em dezembro, mas a uma longa distância: algo em torno de 270 milhões de km.
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