Conforme noticiado pelo Olhar Digital, o rover Perseverance, da NASA, fotografou o cometa 3I/ATLAS sobrevoando Marte no fim de semana. Espaçonaves da Agência Espacial Europeia (ESA) que orbitam o Planeta Vermelho também fizeram o mesmo ao longo de uma semana, capturando imagens do visitante interestelar a 30 milhões de km de distância.
Entre 1º e 7 de outubro, os satélites ExoMars Trace Gas Orbiter (TGO) e Mars Express voltaram suas câmeras para o espaço em busca desse “forasteiro cósmico”. Essas câmeras foram projetadas para registrar detalhes da superfície de Marte, que fica muito mais próxima delas. Observar um objeto tão distante, pequeno e apagado foi, portanto, um enorme desafio técnico.
Distância impede de ver o núcleo do cometa 3I/ATLAS
O instrumento CaSSIS (sigla para Sistema de Imagens de Superfície Coloridas e Estéreo), a bordo do ExoMars TGO, registrou uma sequência de fotos que mostra um pequeno ponto branco se movendo lentamente – é o 3I/ATLAS. Esse ponto representa o núcleo gelado e rochoso do cometa, envolto por uma nuvem difusa de gás chamada coma (e apelidada de cabeleira).
Como o núcleo do objeto tem cerca de um quilômetro de diâmetro, ele é pequeno demais para ser distinguido pela câmera, que estava a dezenas de milhões de quilômetros de distância. Segundo um comunicado da ESA, ver esse núcleo seria tão difícil quanto enxergar aqui da Terra um celular deixado na Lua. No entanto, a coma está visível nas imagens.
Essa cabeleira é formada quando um cometa se aproxima do Sol. O calor aquece seu núcleo gelado, liberando gases e poeira que criam um halo luminoso ao redor dele. Essa nuvem pode se estender por milhares de quilômetros e costuma originar uma cauda longa, que aponta na direção oposta ao Sol.
Nas imagens do CaSSIS, a cauda ainda não aparece claramente, porque o cometa ainda estava longe e com pouca atividade. Os cientistas esperam que ela fique mais visível à medida que o 3I/ATLAS se aproximar do Sol e liberar mais material.
Segundo Nick Thomas, pesquisador principal do CaSSIS, a observação foi uma das mais difíceis já feitas pelo instrumento. “O cometa é de 10 mil a 100 mil vezes mais fraco do que nossos alvos habituais”, explicou.
Observações podem revelar detalhes inéditos sobre o visitante interestelar
Enquanto isso, o Mars Express também tentou capturar o cometa, mas suas imagens não mostraram nada conclusivo. Isso porque suas exposições de meio segundo foram curtas demais para registrar um objeto tão fraco, enquanto o TGO usou exposições cinco vezes mais longas.
Agora, os cientistas estão combinando e ajustando as imagens da sonda Mars Express, tentando aumentar o contraste e talvez revelar o cometa oculto. Eles também analisam dados dos espectrômetros das duas espaçonaves – instrumentos que medem o tipo de luz refletida por um objeto – para tentar identificar a composição da cabeleira e da cauda do 3I/ATLAS.
Esses estudos levarão semanas ou meses, mas podem revelar detalhes inéditos sobre os materiais que formam esse cometa interestelar e como ele reage à luz do Sol. De acordo com Colin Wilson, cientista da ESA, “é emocionante ver nossos orbitadores, que normalmente estudam Marte, reagirem a eventos inesperados como este”.
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O que vem a seguir
O 3I/ATLAS é apenas o terceiro objeto interestelar já observado, depois do famoso ʻOumuamua, em 2017, e do 2I/Borisov, em 2019. Esses corpos vieram de outros sistemas estelares, trazendo pistas sobre como planetas e estrelas se formam em lugares distantes da Via Láctea.
Desde que foi descoberto, em 1º de julho, o cometa 3I/ATLAS vem sendo monitorado por astrônomos do mundo todo. Pelos cálculos, ele pode ser três bilhões de anos mais velho que o Sistema Solar, o que o tornaria um dos objetos mais antigos já observados.
No mês que vem, a ESA pretende observá-lo novamente com a sonda JUICE (sigla em inglês para “Explorador das Luas Geladas de Júpiter”), que está em outro ponto do Sistema Solar. Embora esteja mais longe do cometa, a espaçonave o verá logo após sua maior aproximação do Sol – quando estará mais brilhante e ativo. Os resultados dessas observações devem ser divulgados apenas em fevereiro de 2026.
A agência está preparando a missão Comet Interceptor, com lançamento previsto para 2029. Trata-se de um observatório que ficará “de prontidão” no espaço, esperando que um cometa primitivo – ou até outro objeto interestelar – passe perto o suficiente para ser alcançado.
Michael Kueppers, cientista do projeto, lembra que quando a missão foi planejada, em 2019, apenas um objeto interestelar era conhecido. “Hoje sabemos que há mais deles e que são muito diferentes entre si. Visitar um desses corpos pode nos ajudar a entender melhor sua origem e natureza”.
Mesmo que a missão não consiga interceptar um cometa de outro sistema, ela servirá como teste pioneiro para futuras operações de resposta rápida, prontas para estudar visitantes inesperados vindos de fora do Sistema Solar.
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