Na sexta-feira (31), as lentes de um poderoso telescópio instalado no alto de uma montanha nos EUA flagraram um retorno muito esperado pela comunidade astronômica e pelo público em geral. O cometa interestelar 3I/ATLAS deu novamente as caras em plena noite de Halloween, após semanas mergulhado no brilho do Sol e invisível para a Terra.
O registro foi feito por Qicheng Zhang, astrônomo do Observatório Lowell, que opera o Telescópio Discovery, instalado a mais de 2.300 metros de altitude, na cadeia montanhosa de Happy Jack, no norte do Arizona. Tudo indica que esta imagem representa o primeiro retrato óptico do cometa após sua passagem pelo ponto mais próximo do Sol – o chamado periélio.
Telescópios pequenos podem observar o 3I/ATLAS
Zhang notou depois que o cometa também podia ser visto com equipamentos bem menores. Em seu blog Cometary, ele publicou uma foto feita com um pequeno telescópio e informou que astrônomos amadores do Hemisfério Norte já poderiam tentar observá-lo.
“Tudo o que é preciso é um céu limpo e um horizonte leste baixo”, explicou o pesquisador ao site Live Science. Segundo ele, o cometa aparecerá como uma pequena mancha no céu, mas deve ficar mais visível a cada dia.
Descoberto em julho, o 3I/ATLAS é apenas o terceiro objeto interestelar já detectado passando pelo Sistema Solar – ou seja, que veio de fora dele. Os cálculos mostram que o cometa viaja a mais de 210 mil km/h em uma trajetória praticamente retilínea. Isso indica que ele está apenas “de passagem” e não ficará preso pela gravidade do Sol, como os cometas comuns.
Visitante interestelar mudou de cor
Ao longo das últimas semanas de outubro, o objeto ficou invisível para a Terra ao passar atrás do Sol. Ele atingiu o periélio dia 29, quando chegou a cerca de 210 milhões de quilômetros de distância da estrela. Nesse período, sondas solares continuaram monitorando sua trajetória para que os cientistas não perdessem informações sobre o raro visitante.
Conforme noticiado pelo Olhar Digital, Zhang e um colega coletaram dados momentos antes do periélio em um estudo relatado em um artigo disponível para revisão de pares no servidor arXiv apontando que o cometa havia ficado mais brilhante e apresentava uma coloração azulada incomum.
Essa tonalidade indica a liberação de gases à medida que o gelo do cometa evapora com o calor solar. O pesquisador acredita que o aumento de brilho pode continuar, mas mais observações serão necessárias para confirmar.
Zhang destacou que o Telescópio Discovery é um dos poucos grandes instrumentos capazes de observar tão perto do horizonte. Segundo ele, essa condição foi essencial para capturar o cometa logo após o periélio. O astrônomo conseguiu fazer a foto quando o 3I/ATLAS estava a apenas 16 graus do Sol, pouco acima do horizonte, aproveitando o momento exato em que o céu ainda estava escuro o suficiente.
Para se preparar, Zhang costuma usar um telescópio menor – com lente de 15 cm – para testar as condições do céu e ajustar o tempo de exposição antes das observações oficiais. Segundo ele, embora possam existir outros registros feitos por radiotelescópios ou por instrumentos menores, a imagem capturada parece ser a primeira foto óptica do cometa após o periélio.
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Cometa atinge posição mais favorável semana que vem, diz especialista
Os próximos meses serão decisivos para entender melhor a composição e o comportamento do 3I/ATLAS. À medida que o cometa se afasta do Sol, o calor diminui e sua atividade começa a mudar. Isso permitirá aos cientistas observar o quanto de gás e poeira ele ainda libera, e assim obter pistas sobre sua origem e idade.
Apesar de algumas teorias mais fantasiosas sugerirem que o objeto poderia ser uma espaçonave alienígena, os cientistas são praticamente unânimes em reforçar que não há qualquer evidência disso e que o 3I/ATLAS é um cometa natural, vindo de um sistema estelar desconhecido da Via Láctea.
Estudos apontam que o “forasteiro” pode ser até três bilhões de anos mais velho que o Sistema Solar. A longa exposição à radiação cósmica teria formado uma crosta espessa e escurecida em sua superfície, dificultando a análise de seus materiais originais. Mesmo assim, cada nova observação deve ajudar a desvendar mais sobre a história desse mensageiro interestelar.
“O cometa está se afastando rapidamente do Sol”, explicou Zhang. “Em cerca de uma semana, ele estará em uma posição melhor, a 25 ou 30 graus do Sol, e mais telescópios ao redor do mundo poderão observá-lo.”
Com o 3I/ATLAS visível novamente, astrônomos ao redor do mundo se preparam para observações que devem revelar mais sobre a composição e o comportamento do cometa interestelar.
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