A venda de atestados falsos, receitas de remédios controlados e dos próprios medicamentos está em alta nas redes sociais e no Telegram, com o auxílio de anúncios que cresceram mais de 20 vezes nos últimos sete anos, conforme revelou o g1 no último sábado (16). O esquema envolve o uso ilegal de dados de médicos.
O número de publicações anunciando documentos médicos falsos e medicamentos no mensageiro saltou de 686 para mais de 15 mil anualmente entre 2018 e 2025, segundo levantamento do pesquisador do laboratório de estudos sobre Desordem Informacional e Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas, Ergon Cugler. Somente este ano, elas já alcançaram quase 500 mil visualizações.

O que é vendido?
Segundo a reportagem, mais de 27 mil pessoas estão envolvidas nas comunidades que comercializam atestados médicos, receitas e medicamentos, presentes também no TikTok, X, plataformas da Meta e no Google. O esquema comercializa diferentes tipos de documentos e remédios que só são vendidos nas farmácias com a retenção da receita.
- Entre os documentos, são oferecidas as receitas amarelas, destinadas à prescrição de medicamentos entorpecentes e psicotrópicos de uso mais restrito, incluindo carimbos reais para uma maior autenticidade;
- Receitas azuis, necessárias para a aquisição de psicotrópicos de uso controlado, e as receitas brancas, para remédios sem controle especial, também estão disponíveis;
- Os usuários encontram, ainda, atestados médicos à venda com a possibilidade de escolher os dias de afastamento, a descrição da doença (CID) e a recomendação a ser preenchida;
- Medicamentos tarja-preta, como opioides, benzodiazepínicos e “drogas Z” para tratar insônia, abortivos e inibidores de apetite são outros produtos encontrados no mercado ilegal online.
No caso das receitas controladas, elas incluem nomes e registros verdadeiros de médicos e orientações para o comprador, como optar por farmácias menores e assinar por cima do carimbo. Já os atestados têm, em sua maioria, assinaturas reais de médicos e seus documentos usadas sem autorização.
O esquema envolve bots automatizados e perfis falsos para dificultar o rastreamento dos operadores, além de canais organizados como marketplaces que aprimoram as entregas. Com a confirmação rápida do pagamento, os compradores têm acesso imediato aos conteúdos, de acordo com o relatório.

O que tem sido feito para impedir o mercado ilegal?
Para dificultar a comercialização de atestados médicos na internet, o Conselho Federal de Medicina (CFM) desenvolveu um sistema capaz de rastrear os documentos. A ferramenta verifica se eles são autênticos e autorizados pelo médico cuja assinatura está sendo utilizada, mas a tecnologia foi suspensa após ação de fornecedoras de soluções digitais do setor de saúde.
Já a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vem testando um sistema de emissão de receitas que possibilita checar a autenticidade do documento no ato da compra. A solução ainda está em fase piloto, com expectativa de que seja implantada até o final do ano.
Acusadas de lucrar com a divulgação dos anúncios de atestados, receitas e medicamentos, Google e Meta não se pronunciaram, assim como Telegram e X. O TikTok, por sua vez, declarou possuir uma equipe de segurança especializada em localizar e remover conteúdos fraudulentos.
É importante destacar, ainda, que a prática representa riscos à saúde, ao facilitar acesso a medicamentos controlados sem a devida orientação médica, expondo o comprador a efeitos adversos perigosos. Além disso, o uso de documentos falsificados é crime.
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