O visitante interestelar 3I/ATLAS continua a intrigar astrônomos. Descoberto em julho de 2025, ele parece ser muito mais pesado do que qualquer outro objeto vindo de fora do Sistema Solar já registrado. Mas calma: ao contrário de manchetes que você pode ter lido por aí, ele não é o cometa mais pesado de todos os tempos.
O que o torna especial é ocupar o primeiro lugar num grupo bem restrito: os poucos objetos interestelares observados até hoje. Entre eles, o 3I/ATLAS se destaca por: 1) tamanho (estimado) do seu núcleo; e 2) sua massa calculada em dezenas de bilhões de toneladas.
O que você precisa saber (e entender) sobre o 3I/ATLAS
Desde a sua descoberta, o 3I/ATLAS tem sido acompanhado de perto por telescópios em todo o mundo. Ele é apenas o terceiro objeto interestelar já detectado, depois de ʻOumuamua em 2017 e Borisov em 2019.
Agora, sua trajetória pelo Sistema Solar oferece uma chance rara de investigar de perto como corpos vindos de outras estrelas se comportam. E o que podem revelar sobre a formação de sistemas planetários.
Como a massa foi medida
Medir a massa de um cometa não é fácil. Diferente de planetas ou luas, não dá para calcular pelo movimento de satélites naturais.
No caso do 3I/ATLAS, os astrônomos analisaram milhares de observações feitas por mais de 200 telescópios entre maio e setembro de 2025. Eles compararam a trajetória prevista apenas pela gravidade do Sol com a rota real do objeto.
A diferença foi mínima: a chamada “aceleração não gravitacional”, causada pelo jato de gases expelidos do núcleo, ficou bem abaixo do esperado.
Esse detalhe foi fundamental. Como se sabe a taxa de perda de massa do cometa – em torno de 150 quilos por segundo, medida pelo Telescópio Espacial James Webb – e a velocidade de saída desses gases, dá para estimar quão grande deve ser o núcleo para não ter sua rota alterada.
O resultado surpreendeu: um núcleo de pelo menos cinco quilômetros de diâmetro e uma massa superior a 33 bilhões de toneladas, valor muito acima do que já havia sido medido em outros visitantes interestelares.
Para você ter ideia, essa massa equivale a mais de 5.500 Pirâmides de Gizé, ou a 144 mil navios de cruzeiro de grande porte, por exemplo. É também cerca de 66 vezes o peso de toda a humanidade reunida.
Controvérsias de Avi Loeb
O estudo que estimou a massa do 3I/ATLAS foi liderado pelo astrofísico Avi Loeb, de Harvard, figura conhecida por suas ideias ousadas. Ele já defendeu que o ʻOumuamua poderia ser um artefato alienígena, por exemplo – tese que gerou debates intensos na comunidade científica.
No caso do 3I/ATLAS, Loeb destaca que a raridade estatística do objeto levanta perguntas: se a maioria dos corpos interestelares deveria ser bem menor, por que encontramos tão cedo um tão massivo?
Além disso, ele não descarta hipóteses mais especulativas. Loeb chegou a sugerir que, caso observações futuras confirmem um núcleo ainda maior do que o estimado, a origem natural poderia não explicar o fenômeno sozinha.
A maior parte dos cientistas, porém, interpreta o 3I/ATLAS como um cometa interestelar incomum, mas natural, lembrando que descobertas exigem cautela e mais dados antes de conclusões definitivas.
Outros objetos interestelares
O ʻOumuamua e o 2I/Borisov tinham dimensões modestas. O primeiro lembrava mais um asteroide alongado, com algumas centenas de metros. E o segundo era um cometa com núcleo de menos de um quilômetro de diâmetro.
Nesse grupo seleto, o 3I/ATLAS se destaca: ele é de três a cinco ordens de magnitude mais massivo do que seus predecessores.
No entanto, isso não significa que ele o cometa mais pesado de todos os tempos. O recordista conhecido é o C/2014 UN271 (Bernardinelli-Bernstein), cujo núcleo mede cerca de 128 quilômetros de diâmetro e tem massa estimada em 500 trilhões de toneladas.
Outros famosos, como o Hale-Bopp e o Halley, também são muito mais pesados que o 3I/ATLAS. Ou seja, ele não quebra o recorde absoluto da categoria. Mas estabelece um marco entre os poucos objetos vindos de fora do Sistema Solar.
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Próximos passos de observação
A trajetória do 3I/ATLAS reserva oportunidades únicas para refinar as estimativas sobre seu tamanho e massa. No início de outubro de 2025, ele passará a cerca de 2,7 milhões de quilômetros da órbita de Marte, distância pequena em termos astronômicos.
Nessa ocasião, a câmera HiRISE, a bordo da sonda Mars Reconnaissance Orbiter, deve registrar imagens de alta resolução que poderão ajudar a delimitar melhor o núcleo do objeto.
Alguns meses depois, em março de 2026, será a vez de a sonda Juno, atualmente em operação em Júpiter, observar de perto o visitante interestelar.
Esses registros serão cruciais para confirmar as hipóteses levantadas até agora e talvez revelar detalhes sobre a composição e o comportamento do 3I/ATLAS. Quanto mais dados forem reunidos, maior será a chance de entender por que esse cometa se destaca tanto entre os raríssimos viajantes interestelares já encontrados.
(Essa matéria usou informações de: Correio Braziliense, Futurism e NASA.)
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