Um artigo disponível no servidor de pré-impressão arXiv, onde aguarda revisão de pares para validação e publicação, traz novas informações sobre o cada vez mais surpreendente cometa 3I/ATLAS. Segundo esse estudo, ele tem uma química peculiar, que o difere dos outros visitantes interestelares conhecidos.
Ao analisar o objeto enquanto ele avança no Sistema Solar, os pesquisadores descobriram níveis incomuns de níquel e ferro em sua pluma de gás. Eles classificam esses achados como “extremamente intrigantes”, porque a presença desses metais não é comum em cometas interestelares observados até hoje.
A pesquisa foi realizada por uma equipe internacional usando o Espectrógrafo Echelle Ultravioleta e Visível (UVES), instalado no Very Large Telescope (VLT), do Observatório Europeu do Sul (ESO), no Chile. Normalmente, cometas são frios demais para liberar metais como níquel e ferro, que só se transformam em gás quando aquecidos, processo chamado sublimação.
Algumas assinaturas semelhantes já foram vistas no cometa interestelar 2I/Borisov e em cometas do nosso Sistema Solar. No entanto, 3I/ATLAS apresenta uma proporção de níquel para ferro muito maior, indicando características químicas extremas e diferentes de tudo observado anteriormente.
3I/ATLAS é único entre os cometas
O estudo analisou seis períodos de observação, com o cometa a distâncias entre 3,14 e 2,14 unidades astronômicas do Sol (de 471 milhões a 321 milhões de km). O níquel foi detectado de forma constante, mas o ferro só apareceu quando o objeto se aproximou a 2,64 UA (396 milhões de km). Essa diferença reforça que o 3I/ATLAS tem comportamento químico único entre cometas.
Para os pesquisadores, a presença desses metais em temperaturas tão baixas torna o cometa um verdadeiro mistério, que desafia o entendimento atual sobre a formação e a composição de corpos interestelares.
No final desta semana, o cometa passará perto de Marte, a cerca de 29 milhões de km, oferecendo uma oportunidade inédita de observação. As missões Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), da NASA, e Mars Express e ExoMars Trace Gas Orbiter (EXOMars), da Agência Espacial Europeia (ESA), poderão registrar imagens detalhadas, ajudando a descobrir mais sobre o núcleo, estrutura e composição do 3I/ATLAS.
As imagens atuais de maior resolução foram feitas pelo Telescópio Espacial Hubble, em julho, a 570 milhões de km da Terra. Em comparação, a câmera HiRISE do MRO terá capacidade de registrar o cometa com resolução aproximada de 30 km por pixel, permitindo estimativas mais precisas do tamanho do núcleo.
Estima-se que o 3I/ATLAS tenha cerca de cinco quilômetros de diâmetro, maior que seus predecessores, 2I/Borisov e 1I/’Oumuamua. Sua massa é calculada em cerca de 33 bilhões de toneladas, mostrando que visitantes interestelares podem ser muito variados.
Alguns cientistas, como o controverso Avi Loeb, da Universidade de Harvard, nos EUA, sugerem que a alta proporção de níquel em relação ao ferro pode indicar processos químicos fora do comum, semelhantes a ligas produzidas industrialmente na Terra. Esses achados tornam 3I/ATLAS um objeto excepcional, desafiando modelos de cometas conhecidos e abrindo espaço para novas hipóteses sobre sua origem e formação.
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As primeiras observações polarimétricas do cometa 3I/ATLAS revelaram outro tipo de comportamento inesperado, também nunca visto em outros cometas, sejam eles nativos do Sistema Solar ou vindos de fora.
Os cientistas descobriram que esse corpo celeste apresenta um “ramo de polarização negativa” extremamente profundo e estreito. Em outras palavras, a forma como a luz se organiza ao interagir com sua poeira é totalmente distinta entre os cometas já estudados. Saiba mais detalhes isso aqui.
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