A startup de inteligência artificial xAI, de Elon Musk, obrigou funcionários a ceder dados biométricos – rostos e vozes, por exemplo – para treinar a IA “Ani”, espécie de “namorada virtual” com aparência de anime.
O caso foi revelado pelo Wall Street Journal na terça-feira (04). Segundo a publicação, os empregados foram instruídos a assinar termos dando à companhia o direito de usar suas imagens e vozes sem pagar royalties.
A denúncia faz parte de uma ampla reportagem que mostra como Musk tem concentrado seus esforços na xAI, enquanto a Tesla tenta garantir que o bilionário mantenha o foco na montadora.
O conselho da empresa analisa, nesta semana, um pacote de remuneração trilionário para segurar o CEO. A reunião ocorre em meio a dúvidas sobre sua dedicação e a críticas ao uso de IA em projetos cada vez mais controversos.
xAI obrigou funcionários a ceder rostos e vozes para treinar IA “Ani”
A reportagem do WSJ revelou que a xAI obrigou funcionários a enviar gravações de voz e imagens faciais para treinar “Ani”, chatbot com visual de anime e comportamento sexualizado.
O programa interno, batizado de Project Skippy, exigia que empregados assinassem um contrato concedendo à empresa uma licença perpétua e global para usar seus dados biométricos.
Segundo o WSJ, a coleta era apresentada como um “requisito de trabalho”. E fazia parte da meta da empresa de tornar os avatares mais “humanos” em interações com usuários.
A “Ani” foi lançada como parte do SuperGrok, assinatura premium de US$ 30 por mês (cerca de R$ 170) no X, rede social de Musk. A personagem ganhou fama pelo modo NSFW e por se comportar como uma “namorada virtual”.
Relatos internos indicam que muitos funcionários se sentiram desconfortáveis com o conteúdo sexual e com o risco de seus rostos e vozes serem usados em deepfakes ou revendidos a outras empresas. Mesmo assim, a coleta de dados seguiu adiante. E a “Ani” se tornou um dos produtos mais populares da xAI.
Musk mergulha na xAI enquanto a Tesla tenta não perdê-lo
Nos bastidores, o WSJ descreve um Musk cada vez mais obcecado pela corrida da IA. O bilionário tem passado longas jornadas na sede da xAI, onde lidera reuniões que avançam pela madrugada e participa pessoalmente do desenvolvimento de produtos como o Grok e a própria “Ani”.
Desde que deixou o governo americano, ele transformou a startup em seu principal foco. Para você ter ideia, Musk teve reuniões com executivos da Tesla dentro das instalações da xAI, segundo a reportagem.
Enquanto o bilionário direciona energia e tempo à nova empresa, a Tesla enfrenta queda nas vendas e pressão de investidores. O WSJ relata que grandes acionistas vêm questionando o conselho sobre a falta de atenção do CEO à montadora. E até sobre um possível plano de sucessão.
A presidente do conselho, Robyn Denholm, minimizou as críticas dizendo que “outros CEOs jogam golfe — Musk cria empresas”. Ainda assim, os conselheiros reconhecem que não podem obrigá-lo a se dedicar integralmente à Tesla, o que alimenta dúvidas sobre a gestão da companhia em meio à expansão das ambições de Musk no setor de IA.
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Pacote trilionário tenta amarrar Musk à Tesla em meio à obsessão por IA
O conselho da Tesla tenta garantir que Musk continue à frente da empresa com um pacote de remuneração avaliado em quase US$ 1 trilhão (cerca de R$ 5,7 trilhões).
O plano, que deve ser votado pelos acionistas nesta quinta-feira (06), prevê ampliar a participação do bilionário na companhia de 15% para até 29% se ele atingir metas ambiciosas — como vender 20 milhões de carros elétricos, lançar um milhão de robotáxis e colocar um milhão de robôs humanoides em operação.
Segundo o WSJ, a proposta é vista como uma tentativa de manter Musk “motivado”. E impedir que ele concentre seus esforços apenas na xAI.
O pacote, porém, divide investidores e consultorias especializadas, que alertam para os riscos de concentração de poder e para o conflito de interesses entre as empresas de Musk.
Grupos de acionistas questionam se a Tesla deve investir na xAI – o que ampliaria ainda mais o entrelaçamento entre as companhias. Ainda assim, analistas esperam que o plano seja aprovado, sustentado pelo apoio de acionistas fiéis ao CEO.
O episódio reforça a imagem de um Musk cada vez mais focado em IA. E menos interessado em manter o equilíbrio entre suas próprias criações.
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